segunda-feira, outubro 27, 2008

Explicação!...





O pensamento é triste;

o amor insuficiente;

e eu quero sempre mais
do que vem nos milagres.

Deixo que a terra me sustente:

guardo o resto para mais tarde.

Deus não fala comigo

e-eu sei que me conhece.

A antigos ventos dei
as lágrimas que tinha.

A estrela sobe, a estrela desce...

- espero a minha própria vinda.

(Navego pela memórias

em margens.

Alguém conta a minha história

e alguém mata os personagens.)


Cecília Meireles

sexta-feira, outubro 24, 2008

Com o tempo!...


com o tempo suspenso

a vida adiada

a dor adormecida

num colo de rio

num braço de choupo

acordou o tédio

de se mover em círculo



annadomar

terça-feira, outubro 21, 2008

Que fazer!...


que fazer com a insónia

quando nos nascem anjos na cabeça

voam devagar, suavemente

rente à memória

batem as asas de tempos a tempos

e largam estrelas

que iluminam o olhar transparente

dos sonhos

nessas noites é uma festa

faço de conta que adormeço

com a alvorada pela casa!...
annadomar

sexta-feira, outubro 17, 2008

Terra de Musgos!...




Terra de musgos e sombras, veredas onde
a música não entrou ainda, nem o calor,
nem outra cor que dê alma aos seus mortos.
Árvores por onde cresce a humidade, o silêncio,
onde passa o voo dos quero-quero vigiando
as fronteiras. Colinas sem inclinação, cavalos
que passam pela chuva transformada em neve
no mapa das serras.[…]
E uma geografia desfeita, subindo pelas serras,
desconhecida, sem a amargura dos abandonados
e sem a doçura dos que se sentem amados.
Enumera os demónios, ou solta-os antes de atravessar
as cordilheiras: lagos, estepe, deserto, colinas onde as florestas
desapareceram para que a neve encontrasse a pedra nua.
Não entregues a alma à literatura; em vez de poeta,
prefere a doçura do geógrafo, do coleccionador de retratos.»

Francisco José Viegas
Se me comovesse o amor

quinta-feira, outubro 16, 2008

E o dia!...

E o dia acaba com a maré aos pés
entre uma corrida e a garalhada
transparente e lúcida
que estala na areia!...


annadomar

sábado, outubro 11, 2008

Lambcshop - is a woman



...há sabados sem sentido , que escorregam com imagens...

sexta-feira, outubro 10, 2008

Varanda para o Mar!...


Todas as casas deviam

ter uma varanda para o mar

Para que as manhãs acordassem

no velame inquieto da claridade

E as sombras fundeassem frescas

pelas paredes opacas do meio-dia

E os entardeceres rebentassem

em sotaventos de crepúsculo num quarto

Todas as casas deviam

ter uma varanda para o mar


Ou uma janela...Ou um parapeito...

Um olhar...



(Anónimo)

terça-feira, outubro 07, 2008

Tudo podia...


Tudo podia ser mais simples.
Mas a infância fica tão longe
e os espelhos começaram
a gritar-me uma inocência
que deixou de ser minha
para sempre.O que quero dizer
acompanha, devagar,
o movimento do sol.
E são cada vez mais lentos
os passos que me levam
na direcção das nascentes.
Apesar da sede.


Graça Pires

sábado, outubro 04, 2008

Conto de fadas!...


Na varanda, a bela infanta apaga o cigarro.
O céu sem lua atira-lhe as
estrelas para cima, deixando-a suja
de uma cinza cósmica que ela
sacode para o vaso de flores, onde
o príncipe deixou um bilhete: "Hoje
não pode ser, meu amor"; e ela,
deitando a beata do quinto andar
para a rua, volta para a sala. "Estás
pronta?" Ela não responde.
Senta-se,apenas, ao colo do sapo,
e beija-o,esperando
que se transforme em conde,
mandando o príncipe, mais o amor
dele, e o palácio, às urtigas.



Nuno Júdice Cartografia de Emoções

sexta-feira, outubro 03, 2008

O dia do riso!...




Hoje é o dia do riso,


estupefacta olho para a intenção


não apetece sorrir, tão pouco rir


que forma estranha de fazer dias!




annadomar

quinta-feira, outubro 02, 2008

A cidade!...


A cidade entardece
Em vazios de regressos

Ninguém espera alguém

perdem-se nas horas

tropeçam nos semáforos

cegam nos néons das esquinas escuras

onde se esconde o predador

negoceia-se a vida

por troca da insónia

do medo de chegar

Trocam-se olhares

Desencontrados na noite

na cidade que amanhece!
annadomar

quarta-feira, outubro 01, 2008

Desencontro- Luis Represas e Simone