terça-feira, junho 05, 2007

Há dias!...






Há dias assim. Labirínticos, confusos , nada de fora está por dentro, nada de dentro, pertence a esta rua , a esta janela a esta pessoa distraída, que acabou de atravessar o meu olhar, a esta criança que invariavelmente todos os dias grita e chora no percurso entre o carro e a casa . É-me familiar e até incomodo se quiserem, a minha tolerância gastou-se nesta rotina.


Aliás, hoje estou cansada das rotinas, tenho a esperança presa nos cabelos mas a alegria saltitante anda pelas horas da desistência sabe-se lá porquê. Os vizinhos de cima dão-me más noites , já falei a bem, já falei a mal, agora resta-me esperá-los a todas as horas, encher a caixa de correio de bilhetes, cartas debaixo da porta. Ou seja saturá-los com a minha exigência a que tenho direito - dormir bem e sem sobressaltos! Eles não percebem, mas eu vou fazer isto de forma a que eles não esqueçam. Começo a magicar vinganças...E aí a frase agora, é que vão ver com quantos paus se faz uma canoa!...


Ela sonsa, até enjoa , ele marginal, mas fracote, apenas machão quando decide afinar a voz com insultos e por vezes até um estalo ou outro, como recompensa da sua delicadeza e fidelidade a ela... (casados para o bem e para o mal...)Aí ela grita em tom histérico e não estério, pois aí poderia ser ainda o princípio de alguma sinfonia que valesse a pena ouvir, mas nem isso. Começo a odiá-los, nestes dias perdidos, filhos de noites turbulentas e não gosto deste sentimento perturbante, de gente mesquinha... Eu quero dias laranjas, cheios de vida e gargalhadas tontas que nos fazem pessoas melhores. Já não basta o que vem sem avisar a moer-nos a cabeça de preocupações.


Pois é, vou ver o Mar, vou encher os olhos daquele azul estonteante e esperar que o céu rebente em laranjas de fim de dia, isso sim vale a pena,antes que a criança de todos os dias a chorar faça o caminho entre o carro e a casa sem que ninguém diga ou faça nada para que acabe!...



annadomar