sexta-feira, janeiro 04, 2008

A chuva!...




A tarde bruscamente aclarou-se
porque já cai a chuva minuciosa.
Cai e caiu. A chuva é só uma coisa
que o passado por certo freqüentou.
Quem a escuta cair já recobrou
o tempo em que a fortuna venturosa
uma flor lhe mostrou chamada rosa
e a cor bizarra do que cor tomou.
Esta chuva que treme sobre os vidros
alegrará nuns arrabaldes idos
as negras uvas de uma parra em horto
que não existe mais. A humedecida
tarde traz-me a voz, a voz querida
de meu pai que retorna e não está morto.


Jorge Luis Borges