sexta-feira, outubro 17, 2008

Terra de Musgos!...




Terra de musgos e sombras, veredas onde
a música não entrou ainda, nem o calor,
nem outra cor que dê alma aos seus mortos.
Árvores por onde cresce a humidade, o silêncio,
onde passa o voo dos quero-quero vigiando
as fronteiras. Colinas sem inclinação, cavalos
que passam pela chuva transformada em neve
no mapa das serras.[…]
E uma geografia desfeita, subindo pelas serras,
desconhecida, sem a amargura dos abandonados
e sem a doçura dos que se sentem amados.
Enumera os demónios, ou solta-os antes de atravessar
as cordilheiras: lagos, estepe, deserto, colinas onde as florestas
desapareceram para que a neve encontrasse a pedra nua.
Não entregues a alma à literatura; em vez de poeta,
prefere a doçura do geógrafo, do coleccionador de retratos.»

Francisco José Viegas
Se me comovesse o amor