sexta-feira, julho 07, 2006

Anoitece!


A noite caiu no silêncio da música. A casa arrumada, a roupa dobrada o pijama a cheirar a lavado. Lá fora buzinas ainda tardias e culpadas a cortar o silêncio. A minha vizinha aspira a casa, o cão coça o chão de madeira, a campainha toca, passos apressados, quase ouço o beijo que trocam. É assim que se veste a noite repetidamente, em cada fim de dia. Tão cansado que custa sentir as emoções trocadas como o sono acumulado em alvoradas brancas. Espera-se a quietude do tempo, espalhamos as memórias em sobressalto. O cão ladrou, tenho a certeza!...

Chega o cheiro da maresia nocturna. A saudade arrasta-se em marés sem luz. A dor não é identificada, mas existe, porque se sente. Há vampiros na minha rua, que sugam almas e os sonhos distraídos de solidões, que se juntam na noite.É nesse anoitecer, que mergulho, com a vida a fugir entre os dedos. Desenho gaivotas de costas para o mar – "viver também cansa"!...


annadomar