sexta-feira, janeiro 26, 2007

Calmaria!...


Um barco atravessa as constelações,
deixando um sulco de asa na superfície celeste.
Viajante clandestino, oculto o meu sonho
na mala do porão.
Ouço um choro de astros
amarrados ao mastro de fogo,
e sinto uma queda de cometa no abismo do horizonte.

Desenho o seu rumo no mapa
da alma.
Evito naufrágios;
rodeio arquipélagos e recifes;
procuro o centro do céu,onde
se esconde a visão de um último porto,
com o seu cais de cinza e uma erupção
de lava nos bolsos do nada.
Então, acendo um cigarro na falésia
da memória.

Os deuses seguem-me,
apanhando as beatas que deixo pelo caminho.
Correm,e ouço o bater dos corações num eco
de cansaço.
Mas não me apanham, e
dobro a esquina do ocaso,
vendo-os tossir com o fumo da noite

De volta ao convés, reabro
o diário de bordo.
E o barco continua parado
no oceano sem porto.


Nuno Júdice