segunda-feira, março 26, 2007

Vigílias!...

pernoito no interior do corpo desarrumado
o medo invade o penumbroso corredor
descubro uma cintilação de água no estuque
uma cicatriz de cristais de bolor
abre-se porosa ao contacto dos dedos
indica que não haverá esquecimento
ou brisa para limpar o tempo imemorial da casa

deste simulado sono ficou-lhe o amargo iodo
as madeiras enceradas cobertas de poeira
ervas secas à chuva molhos de rosmaninho junquilhos,
bocas de lobo silenas, trevo mas nenhuma fuga
foi recomeçada a infância permanece triste onde a abandonei
quase não vive

no entanto ouço-a respirar dentro de mim
agora tudo é diferente recomeço a viver

a partir do vazio da treva dos dias em silêncio
por entre a pele e um feixe de magnificas veias
sinto o pássaro da velhice arrastando as asas

onde desenvolve o calmo voo lunar

enumero cuidadosamente os objectos,
classifico-os por tamanhos por texturas,
por funções quero deixar tudo arrumado
quando a loucura vier da extremidade aguçada do corpo alado
e o rosto for devassado por um estilhaço de asa

então a vida abater-se-á sobre a folha de papel
onde verso a verso me ilumino e me desgasto.


Al Berto