quinta-feira, junho 14, 2007

Calmaria!...


Um barco atravessa as constelações,
deixando um sulco de asa na superfície celeste.
Viajante clandestino, oculto o meu sonho
na mala do porão.
Ouço um choro de astros amarrados ao mastro de fogo,
e sinto uma queda de cometa no abismo do horizonte.
Desenho o seu rumo no mapa da alma.
Evito naufrágios; rodeio arquipélagos e recifes;
procuro o centro do céu, onde
se esconde a visão de um último porto,
com o seu cais de cinza e uma erupção de lava
nos bolsos do nada.
Então, acendo um cigarro na falésia
da memória.
Os deuses seguem-me, apanhando as beatas
que deixo pelo caminho.
Correm,e ouço o bater dos corações num eco
de cansaço. Mas não me apanham,
e dobro a esquina do ocaso, vendo-os tossir
com o fumo da noite
De volta ao convés, reabro
o diário de bordo.
E o barco continua parado
no oceano sem porto.

Nuno Júdice

Geometria Variável