quinta-feira, agosto 23, 2007


"Com os anos a morte vai-se tornando familiar. Quero dizer não a ideia de morte, não o medo dela: a realidade dela. As pessoas de quem gostámos e partiram amputam-nos cruelmente de partes vivas nossas, e a sua falta obriga-nos a coxear por dentro. Parece que sobrevivemos não aos outros mas a nós mesmos, e observamos o nosso passado como uma coisa alheia: os episódios dissolvem-se pouco a pouco, as memórias esbatem-se, o que fomos não nos diz respeito, o que somos estreita-se."


do conto Uma festa no teu cabelo.
in Segundo livro de crónicas António Lobo Antunes