sábado, janeiro 05, 2008

Se me comovesse o amor!...


Se me comovesse o amor como me comove
a morte dos que amei, eu viveria feliz.Observo
as figueiras, a sombra dos muros, o jasmineiro
em que ficou gravada a tua mão, e deixo o dia
caminhar por entre veredas, caminhos perto do rio.
Se me comovessem os teus passos entre os outros,
os que se perdem nas ruas, os que abandonam a casa
e seguem o seu destino, eu saberia reconhecer
o sinal que ninguém encontra, o medo que ninguém comove.
Vejo-te regressar do deserto, atravessar
os templos, iluminar as varandas, chegar tarde.
Por isso não me procures, não me encontres,
não me deixes, não me conheças.
Dá-me apenas o pão, a palavra as coisas possíveis. De longe.

Francisco José Viegas