Em louvor do fogo!...

Um dia chega
de extrema doçura:
tudo arde.Arde a luz
nos vidros da ternura.
As aves,no branco
labirinto da cal.
As palavras ardem,
a púrpura das aves.
O vento,onde tenho casa
à beira do outono.
O limoeiro, as colinas,tudo arde
na extrema e lenta
doçura da tarde.
Vê como o verão
subitamente
se faz água no teu peito,
e a noite se faz barco,
e a minha mão marinheiro.
Eugénio de Andrade
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