terça-feira, maio 20, 2008

Visto a esta luz!...


Visto a esta luz és um porto de mar

como reverberos de ondas onde havia mãos

rebocadores na brancura dos braços

Constroem-te um ponte

que deverá cingir-te os rins para sempre

O que há horrível no teu corpo diurno

é a sua avareza de palavras

és tu inutilmente iluminado e quente

como um resto saído de outras eras

que te fizeram carne e se foram embora

porque verdade sem erro certo verdadeiro

nada era noite bastante para tocarmos melhor

as nossas mãos de nautas navegando o espaço

os corpos um e dois do navio de espelhos

filhos e filhas do imponderável

de cabeça para baixo a ver a terra girar

Quero-te sempre como nã querer-te?

mas esta luz de sinopla nas calças!

este interposto objecto

e o seu leve peso de eternidade



Mário Cesariny