quinta-feira, junho 12, 2008

Se do claustro fechado das minhas mãos vazias!...



Se do claustro fechado das minhas mãos vazias
brotassem árvores refloridas de espanto;
Se, dos rios de pedras sem margens,
nautas caravelas encetassem rotas de viagens
e a saliva escorresse lívida, leitosa, amamentando
a Noite que chora... na boca da tua Rosa...
E dos teus lábios gelados se soltassem
Begónias singelas, em forma de palavras ...

Se as Andorinhas voltassem ao pousio
do barro dos ninhos na hora ruborescida
do final de todas as tardes. E se as traças
não devorassem os bordados dos lençóis nupciais
e os brocados de castas toalhas, nos enxovais
dos sentidos virgens por casar ...

E no olival as árvores erguidas não fossem mais
que somente vultos sinistros, retorcidos, confusos,
desenhados em registos de sombras a carvão,
no pálido fundo de cal - nos muros intransponíveis
do teu escuro quintal. Os seus frutos ovalados -
grossos bagos - , se projectassem em turbinas de luz,
alúmen da candeia, efervescente luminescência,
nas pupilas rasgadas do teu olhar fundo de Mar ...

Te digo, meu Amor ... dispensaria neste Mundo
o brilho de todas as Constelações de Estrelas.
Tu serias o meu Sol eternamente a brilhar!

Mel de Carvalho