No caminho com Maiakóvski!...

No caminho com Maiakóvski
Assim como a criança
humildemente afaga
a imagem do herói,
assim me aproximo de Maiakóvski.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro
com um poeta soviético.
Lendo teus versos
aprendi a ter coragem
Tu sabes,
conheces melhor que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores
matam nosso cão,
E não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo o nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
Nos dias que correm
a ninguém é dado
repousar a cabeça
alheia ao terror.
Os humildes baixam o cerviz;
e nós,que não temos pacto nenhum
com os senhores do mundo,
por terror nos calamos.
No silêncio do meu quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas amanhã
diante do juiz,
talvez meus lábios
calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.
(...)
Eduardo Alves da Costa
1985
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