terça-feira, abril 10, 2007

Lição!...



«Aprendíamos a amar,
aprendíamos/a morrer» Eugénio de Andrade

É no verão que se aprende a poesia, disseste;
e em cada um dos verões que a vida nos traz,
em que se aprende e desaprende o mais certo,
entre o amor e a morte, que cada um tem de saber.
No quintal, onde já não existe a romãzeira da infância,
ouvindo o vento que sobe da terra,
trazendo um antigo furor de ervas e raízes;
ou no largo aberto para o tempo que foi,
e esse que há-de vir.
Abro contigo o livro branco de todos os lugares
e de todos os nomes: o livro da poesia,
aprendida com o desfolhar dos verões,
enquanto as mães se despedem da vida,
e uma baça adolescência se confunde com a névoa de agosto.
Leio devagar, como se interpretasse, e um fogo embarcado
nos olhos enfunasse a mais obscura das imaginações:
o verso, aprendido no leito da memória,
no verão em que se aprende a poesia,
disseste.
Nuno Judíce