sábado, fevereiro 13, 2010

Ainda aqui neste Mar!...




Onde cruzei o meu olhar com o teu?...

Vejo-te sentada na cama com um ar abatido pela posição dos ombros. Sabes que te vejo da minha janela indiscreta, mas não te importas, é como se gostasses de exibir a tua nudez e a tua dor. Penso que te terei visto pela primeira vez a passeares na praia, era Inverno e um vento gelado colava-se ao corpo, apenas via os teus olhos debaixo do capuz e garanto-te que eram verdes e tristes como o dia. Fixei-os e consigo reconhecê-los caso te vires e te cruzes de novo com os meus, carregados de avidez.

É difícil este tempo de desencontros e de silêncios de alma. Cruzamos a nudez dos olhares com o despudor dos corpos, que se exibem escondidos em si próprios. São momentos amargos, com a dor a vestir-se disfarçadamente de negro em céu plúmbeo, com os pássaros ainda a partirem para Sul. Um barco atravessa o horizonte deste Mar, distraio-me de ti e penso que a saudade se escreve na praia até ao regresso, aonde os lenços são acenados e os olhos perdem-se no horizonte. Esperas alguém?... São momentos de emoção total. Volto de novo a ti continuas na mesma posição, nem os músculos se mexem. Terás vida? Um coração que bate? Ou serás apenas aquilo que eu inventei ver?...

De repente assustei-me com o desconforto desta hipótese, estou mais só do que imaginava. Tenho as noites povoadas de fantasmas que atravessam o quarto, caminham pela casa e saem pelas janelas fechadas, há carros a travarem nas passadeiras destas madrugadas frias. Dá-me um sinal, de que existes, que és real, que posso contar contigo para falarmos um dia sobre o silêncio dos nossos olhares, quando se cruzaram.



annadomar