quinta-feira, fevereiro 28, 2008
quarta-feira, fevereiro 27, 2008
segunda-feira, fevereiro 25, 2008
Coração sem imagens!

Deito fora as imagens,
Sem ti para que me servem as imagens?
Preciso habituar-me a substituir-te pelo vento,
que está em toda a parte
e cuja direcção é igualmente passageira e verídica.
Preciso habituar-me ao eco dos teus passos
numa casa deserta,
ao trémulo vigor de todos os teus gestos invisíveis,
à canção que tu cantas
e que mais ninguém ouve a não ser eu.
Serei feliz sem as imagens.
As imagens não dão felicidade a ninguém.
Era mais difícil perder-te, e,
no entanto, perdi-te.
Era mais difícil inventar-te,
e eu inventei-te
Posso passar sem as imagens
assim como posso passar sem ti.
E hei-de ser feliz
ainda que isso não seja ser feliz.
Raul de Carvalho
sexta-feira, fevereiro 22, 2008
quinta-feira, fevereiro 21, 2008
quarta-feira, fevereiro 20, 2008
terça-feira, fevereiro 19, 2008
A rosa de Hiroxima!...

Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroxima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atómica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada.
Vinícius de Moraes
sábado, fevereiro 16, 2008
sexta-feira, fevereiro 15, 2008
quarta-feira, fevereiro 13, 2008
terça-feira, fevereiro 12, 2008
domingo, fevereiro 10, 2008
A hora da partida!...

A hora da partida soa quando
Escurecem o jardim e o vento passa,
Estala o chão e as portas batem, quando
A noite cada nó em si deslaça.
A hora da partida soa quando
As árvores parecem inspiradas
Como se tudo nelas germinasse.
Soa quando no fundo dos espelhos
Soa quando no fundo dos espelhos
Me é estranha e longínqua a minha face
E de mim se desprende a minha vida.
SOPHIA DE MELLO BREYNER
sexta-feira, fevereiro 08, 2008
Luiz Pacheco

Quando a dor no peito me oprime, corre o ombro, o braço esquerdo, surge nas costas, tumifica a carótida e dá-lhe um calor que não gosto; quando a respiração se acelera em busca duma lufada que a renasça, o medo da morte afinal se escancara (medo-mor, tamanha injustiça, torpeza infinita), aperto a mão da Irene, a sua mão débil e branca. Quero acordá-la. E digo : «não me deixes morrer, não deixes…» Penso para comigo, repito para me convencer: «esta pequena mão, âncora de carne em vida, estas amarras suas veias artérias palpitantes, este peso dum corpo e este calor, não me deixarão partir ainda…» E aperto-lhe a mão com força, e acabo às vezes por adormecer assim, quase confiante, agarrado à sua vida. Ah, são as mulheres que nos prendem à terra, a velha terra-mãe, eu sei, eu sei ! São elas que nos salvam do silêncio implacável, do esquecimento definitivo, elas que nos transportam ao futuro, à imortalidade na espécie (nem teremos outra) pelo fruto bendito do seu ventre (eu sei, eu sei…)
”Excerto de ” Comunidade “, de Luiz Pacheco.
quinta-feira, fevereiro 07, 2008
quarta-feira, fevereiro 06, 2008
É um sonho!...

É um sonho ou talvez só uma pausa
na penumbra. Esta massa obscura
que ela revolve nas águas são estrelas.
Entre aromas e cores, um barco de calcário
prossegue uma viagem imóvel num jardim.
Vejo a brancura entre os astros e os ramos.
Dir-se-ia que o ser respira e se deslumbra
e que tudo ascende sob um sopro silencioso.
Nenhum sentido mas os signos amam-se
e o brilho e o rumor formam um mundo.
António Ramos Rosa
segunda-feira, fevereiro 04, 2008
Sem título bastante breve!...

Tenho o olhar preso aos ângulos escuros da casa
tento descobrir um cruzar de linhas misteriosas, e
com elas quero construir um templo em forma de ilha
ou de mãos disponíveis para o amor....na verdade,
estou derrubado
sobre a mesa em fórmica suja duma taberna verde,não sei onde
procuro as aves recolhidas na tontura da noite
embriagado entrelaço os dedos
possuo os insectos duros como unhas dilacerando
os rostos brancos das casas abandonadas,
á beira mar...dizem que ao possuir tudo isto
poderia Ter sido um homem feliz, que tem por defeito
interrogar-se acerca da melancolia das mãos.......
esta memória lamina incansável
um cigarro
outro cigarro vai certamente acalmar-me....
que sei eu sobre as tempestades do sangue?
E da água?
no fundo, só amo o lodo escondido das ilhas...
amanheço dolorosamente, escrevo aquilo que posso
estou imóvel, a luz atravessa-me como um sismo
hoje, vou correr à velocidade da minha solidão
Al Berto
domingo, fevereiro 03, 2008
sábado, fevereiro 02, 2008
sexta-feira, fevereiro 01, 2008
Suspensa!...

Se o teu corpo se quebrasse,
sobraria um coração a bater
num peito cansado.
Mas a força, essa, ficaria intacta
suspensa, entre movimentos sincronizados
Iria distinguir as tuas palmas , entre todas
de outros tantos corações, que batem
em peitos cansados, mas abertos, ao balanço
do olhar que te segue!...
annadomar