quinta-feira, janeiro 31, 2008

Ninguém pode construir em teu lugar as pontes
que precisarás de passar para atravessar o rio da vida.
Ninguém, excepto tu, só tu.
Existem, por certo, atalhos sem número,
e pontes, e semideuses
que se oferecerão para levar-te além do rio,
mas isso te custaria a tua própria pessoa:
tu te hipotecarias e te perderias.
Existe no mundo um único caminho
por onde só tu podes passar.
Aonde leva?Não perguntes,
segue-o!

Friedrich Nietzsche

quarta-feira, janeiro 30, 2008

Horizontes!...



São nestes horizontes de mar

que a conversa flui

as palavras escorregam

e os olhares se cruzam

sem mentiras!...

annadomar

segunda-feira, janeiro 28, 2008

Je sais...



Como é bom este embalar de palavras, tão antigas,tão presentes, tão precisas!...

annadomar

domingo, janeiro 27, 2008

e...



...e o estalar dos bagos, com sabor a romã!...

annadomar

sexta-feira, janeiro 25, 2008

A lágrima!...



A lágrima é oceano dos olhos.
É chuva salgada......
Afoga raivas,
desamarra alegrias,
exibe impaciências.
A lágrima não prefere idades......
A lágrima anuncia o impalpável da alma.
No lenço,
na mão,
a lágrima é brilho
que se disfarça em silêncio."



(Moacyr)

quinta-feira, janeiro 24, 2008

Em perfeita sintonia!...




"O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
A sutileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas -
Essas e o que falta nelas eternamente-;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada —
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais,
se puder ser,
Ou até se não puder ser...
E o resultado? (...)


Álvaro de Campos

quarta-feira, janeiro 23, 2008

Se!...


Se mergulhasses no meu peito,
haveria peixes vermelhos
a enfeitarem-te o olhar de espanto
Aí ficarias sem tempo para sair
E eu sem respirar, sossegaria o teu medo
azul e translúcido que te atormenta
Nestas manhãs imensas e preguiçosas!...
annadomar

segunda-feira, janeiro 21, 2008

Pede-se experiência!...


(A redacção que se segue foi escrita por um candidato numa selecção de pessoal . A pessoa foi aceite e seu texto está a fazer furor na Internet, pela sua criatividade e sensibilidade.)
...

Já fiz cócegas à minha irmã só para que deixasse de chorar.
Já me queimei a brincar com uma vela.
Já fiz um balão com a pastilha que se me colou na cara toda, já falei com o espelho.
Já fingi ser bruxo.

Já quis ser astronauta, violinista, mago, caçador e trapezista; ja me escondi atras da cortina e deixei esquecidos os pés de fora; ja estive sob o chuveiro até fazer chichi.

Já roubei um beijo, confundi os sentimentos, tomei um caminho errado e ainda sigo caminhando pelo desconhecido.

Já raspei o fundo da panela onde se cozinhou o creme, ja me cortei a o barbear-me muito apressado e chorei ao escutar determinada música no autocarro.

Já tentei esquecer algumas pessoas e descobri que são as mais difíceis de esquecer.

Já subi às escondidas até ao terraço para agarrar estrelas, Já subi a uma arvore para roubar fruta, Já caí por uma escada.

Já fiz juramentos eternos, escrevi no muro da escola e chorei sozinho na casa de banho por algo que me aconteceu; Já fugi de minha casa para sempre e voltei no instante seguinte.

Já corri para não deixar alguém a chorar, Já fiquei só no meio de mil pessoas sentindo a falta de uma única.

Já vi o pôr-do-sol mudar do rosado ao alaranjado.
Já mergulhei na piscina e não quis sair mais.
Já tomei whisky até sentir meus lábios dormentes.
Já olhei a cidade de cima e nem mesmo assim encontrei o meu lugar.

Já senti medo da escuridão.
Já tremi de nervos, Já quase morri de amor e renasci novamente para ver o sorriso de alguém especial.
Já acordei no meio da noite e senti medo de me levantar.

Já apostei a correr descalço pela rua, gritei de felicidade, roubei rosas num enorme jardim.
Já me apaixonei e pensei que era para sempre, mas era um "para sempre" pela metade.

Já me deitei na relva até de madrugada e vi o sol substituir a lua;
Já chorei por ver amigos partir e depois descobri que chegaram outros novos e que a vida é um ir e vir permanente.

Foram tantas as coisas que fiz, tantos os momentos fotografados pela lente da emoção e guardados nesse baú chamado coração...
Agora, um questionário pergunta-me, grita-me desde o papel:


" - Qual é a sua experiência?"
Essa pergunta fez eco no meu cérebro. "Experiência.... "Experiência..."
Será que cultivar sorrisos é experiência?
Agora... agradar-me-ia perguntar a quem redigiu o questionário:
" - Experiência?! Quem a tem, se a cada momento tudo se renova???"


sábado, janeiro 19, 2008

Summertime!... (Renee Olstad)


Mais uma versão e esta das boas, mesmo saborosa...




quinta-feira, janeiro 17, 2008

Foz do Tejo, um país!...


O rio não dialoga senão pela alma

de quem o olha e embebeu a sua alma

de olhares ribeirinhos no passado

ou à flor do pensamento no futuro.

É um país que fala dentro da fronte,

olhando as naus, navios, barcos pesqueiros

e o trilho das famintas aves pintoras

de riscos negros, que perseguem o odor

das redes cheias, as outrossim poéticas

familiares gaivotas. É uma costa inteira

de imagens de gaivotas dentro dos olhos.

São bocas a pensar razões da vida,

gargantas já caladas pela nascença e morte,

quando entre si se vêem ou juntas olham

o mar dos seus próprios dias.

São cabeças

velhas de labutar,

entre dentes cerrados,

as palavras mudas de um ofício no mar,

antigas de silêncio, como se no esófago

guardassem há muito a sabedoria de ir

enfrentar o mar, transpor o mar, estar.

Tal como um rio o mar só quer falar

pela dor e alegria de alma com que o chama,

há séculos na orla, um povo mudo,com as palavras presas,

guturais sem fôlego,dentro de si, tão firmes no palato, articuladas

na língua interior. E o mar é quieto ou bravo,

e a alma tensa de uma paixão secreta,

escondida atrás da boca, e sempre aberta,

tal como as pálpebras diante desta água.

Só a alma sabe falar com o mar,depois de chamar a si o Rio,

no imo de cada um, recordações, de todos

os que cumprem na linha da costa o seu destino.

O de crianças, berços nascidos à beira-mar,

aleitadas por água marinha bebida por rebanhos,

alimentadas por frutos regados pela bruma.

Mesmo quando petroleiros, se olharmos o mar,

passam sem som na glote, para nós mesmos dizemos

que o tempo já findou das caravelas outrora

e dentro do nosso sangue passa o tempo de agora.

Também as vacinas, fenícias áfonas no poema

que as canta, sabem as formas, pelo olhar,

de serem mulheres com peixes à cabeça.

E os pregões que eu calo, revendo-as, eram outra

língua do mar, os nomes com que nos chamam

para o seu modo de levar entre as casas o mar.

Mas as dores não as ecoa o mar, nem mesmo

as de poetas, só as pancadas das palavras

no encéfalo parecem ser voz do mar.

É uma nação única de memórias do mar,

que não responde senão em nós.

Glórias, misérias,que guardámos por detrás do olhar lírico

e da língua, a silabar dentro da boca.

Nunca chamámos o mar nem ele nos chama

mas está-nos no palato como estigma



Dezembro de 1997 ,

Fiama Hassa Pais Brandão

Cena Vivas Relógio d´Água

quarta-feira, janeiro 16, 2008

Solidão!...




A maior solidão é a do ser que não ama. A maior solidão é a dor do ser que se ausenta, que se defende, que se fecha, que se recusa a participar da vida humana.A maior solidão é a do homem encerrado em si mesmo, no absoluto de si mesmo,o que não dá a quem pede o que ele pode dar de amor, de amizade, de socorro.O maior solitário é o que tem medo de amar, o que tem medo de ferir e ferir-se,o ser casto da mulher, do amigo, do povo, do mundo. Esse queima como uma lâmpada triste, cujo reflexo entristece também tudo em torno. Ele é a angústia do mundo que o reflete. Ele é o que se recusa às verdadeiras fontes de emoção, as que são o patrimônio de todos, e, encerrado em seu duro privilégio, semeia pedras do alto de sua fria e desolada torre.

Vinicius de Moraes

terça-feira, janeiro 15, 2008

Gosto!...


Gosto destes dias molhados
de manhãs embrulhadas em nevoeiro
e ouvir o mar zangado, rasgando as ondas.
Gosto deste pingar da janela, que embala os sentidos,
os passos apressados na calçada brilhante.
Gosto, gosto mesmo!...
annadomar

segunda-feira, janeiro 14, 2008

Entrevista Luiz Pacheco (extracto)...


Porrada por encomenda não


Sim, às vezes sou um bocado duro, mas a dureza não é só franqueza, é uma exigência própria. Mas isso hoje não interessa a ninguém, hoje tudo se resume ao deve e ao haver. O que vejo por exemplo nos meus filhos, é uma retracção. Eles não se abrem. Há uma predisposição para a pessoa gostar de si própria e, em consequência disso, fecha-se, cria uma barreira. Se você ler certos textos meus vai encontrar coisas que não são fáceis de serem ditas. Tenho em mim um gosto de estar atento. Estar atento é vermo-nos, a nós próprios como aos outros, da maneira certa. O que é muito difícil.
As pessoas mudam de uma maneira total. Às vezes é até muito rápido, não é ao longo da vida. Ninguém muda? Bem, talvez. Eu acho é que ninguém, quase ninguém, se revela. Houve uma altura em que eu tinha a noção de que conhecia tudo. E hoje tenho a noção contrária. A pessoa mais boçal, mais primária, de repente tem gavetas fechadas. É muito difícil conhecer os outros. Há um texto meu que é o Teodolito, que é o homem e a sua circunstância. A pessoa que conhece a sua circunstância - se você estivesse aqui neste sítio onde eu estou, rodeada de canibais, você ficava de repente muito atenta, por uma questão de autodefesa - fica atenta. Não, não é preciso conversar muito para conhecer o outro. Há aqui uma coisa que é a gorjeta, que é um caso sério. Porque não se sabe a quem se há-de dar, se se há-de dar igual a todos, é uma chatice. Depois descobri que elas gostam é do "pourboir" discreto. Ai nos cabeleireiros também é assim? Ai não sabia. Eu sou um tipo atento. É uma maneira de estar na vida. Quando comecei a publicar no Público alguém anunciou: o escritor e polemista Luiz Pacheco. Queriam que eu fosse para o jornal dar porrada. E eu, só para chatear, para contrariar, estive quase um ano a retrair as unhas. Porrada por encomenda não."

Luiz Pacheco, 2004

sexta-feira, janeiro 11, 2008

A velha Infância!...




gosto de trautear esta música, nas manhãs claras da vida!...

quarta-feira, janeiro 09, 2008

No silêncio dos olhos!...


Em que língua se diz, em que nação,
Em que outra humanidade se aprendeu
A palavra que ordene a confusão
Que neste remoinho se teceu?
Que murmúrio de vento, que dourados
Cantos de ave pousada em altos ramos
Dirão, em som, as coisas que, calados,
No silêncio dos olhos confessamos?

José Saramago

Os Poemas PossíveisLisboa,
Caminho, 1999

segunda-feira, janeiro 07, 2008

a solidão



A solidão escreve-se assim

nos cascos de uma noz qualquer!...!

annadomar

sábado, janeiro 05, 2008

Se me comovesse o amor!...


Se me comovesse o amor como me comove
a morte dos que amei, eu viveria feliz.Observo
as figueiras, a sombra dos muros, o jasmineiro
em que ficou gravada a tua mão, e deixo o dia
caminhar por entre veredas, caminhos perto do rio.
Se me comovessem os teus passos entre os outros,
os que se perdem nas ruas, os que abandonam a casa
e seguem o seu destino, eu saberia reconhecer
o sinal que ninguém encontra, o medo que ninguém comove.
Vejo-te regressar do deserto, atravessar
os templos, iluminar as varandas, chegar tarde.
Por isso não me procures, não me encontres,
não me deixes, não me conheças.
Dá-me apenas o pão, a palavra as coisas possíveis. De longe.

Francisco José Viegas

sexta-feira, janeiro 04, 2008

A chuva!...




A tarde bruscamente aclarou-se
porque já cai a chuva minuciosa.
Cai e caiu. A chuva é só uma coisa
que o passado por certo freqüentou.
Quem a escuta cair já recobrou
o tempo em que a fortuna venturosa
uma flor lhe mostrou chamada rosa
e a cor bizarra do que cor tomou.
Esta chuva que treme sobre os vidros
alegrará nuns arrabaldes idos
as negras uvas de uma parra em horto
que não existe mais. A humedecida
tarde traz-me a voz, a voz querida
de meu pai que retorna e não está morto.


Jorge Luis Borges

quinta-feira, janeiro 03, 2008

Expressividade-Sempre para sempre (Donna Maria)



Por vezes há amor!...

quarta-feira, janeiro 02, 2008

Entre o claro e o escuro!...



Entre o claro e o escuro

permanece o cinzento dos nossos dias

Não imaginas a tristeza do olhar

que a chuva molhou.

Entre o claro e o escuro

fica um País de incertezas

com promessas adiadas

Entre o claro e o escuro

fecha-se o teu rosto

outrora radioso, à espera

do acontecer, guardado

entre mãos!...

annadomar