sábado, agosto 29, 2009

Solitude - Rodrigo Leão



A solidão também se constrói entre palavras fechadas ao vento!...

annadomar

segunda-feira, agosto 24, 2009


O deserto é um silêncio depois do mar,

É o êxtase da luz sobre o coração da areia.

Vai-se e volta-se e nada se esquece.

Tudo se oculta para depois se dar a ver

No ponto em que os ventos se cruzam

E as almas gritam no fundo dos poços.

Os cestos sobem e descem prometendo água,

Uma frescura que derrete a febre.

Não são as tâmaras que adoçam a boca,

É a beleza das mulheres dissimulando

O desejo como um pecado sob a escuridão dos véus.

As serpentes assobiam ou cantam

Conforme o veneno que lhes molda o sangue.

Enroscam-se sobre as pedras

como fragmentos de lua à espera da manhã.

E a sombra alonga-se nas dunas

Ondulando rente às palmeiras

Como a última cobra do medo das crianças.

Não há ruído maior que este silêncio

Que se serve com tâmaras e com chá

Na mesa rasteira, sobre a terra molhada.

É no que não se nomeia que está o infinito.



José Jorge Letria

domingo, agosto 23, 2009

Ausência!...

Mal te deixo,
Continuas em mim, cristalina
Ou trémula,
Ou inquieta, por mim mesmo ferida
Ou cumulada de amor, como quando os teus olhos
Se fecham sobre o Dom da vida
Que sem cessar te entrego.
Meu amor, encontrámo-nos
Sedentos e bebemos
Toda a nossa água e todo o nosso sangue,
Encontrámo-nos
Com fome
E mordemo-nos
Como o fogo morde,

Deixando-nos em ferida
mas espera-me
guarda a tua doçura.
Eu te darei também
Uma rosa.


Pablo Neruda

sábado, agosto 15, 2009

Mais perto do Tejo!...


Mais perto do Tejo,

há palavras

que tocam o sossego dos lábios

para dizer o sul da mágoa,

no voo convergente das gaivotas,

quando os barcos se abrem

ao argumento ondulado das marés.


De O Tejo e a margem sul na poesia
portuguesa: antologia, 1993

Graça Pires

sexta-feira, agosto 07, 2009

Instante!...

Ao anoitecer vem uma estrela
Visitar-me os olhos:

Deixo um lírio sobre a mesa
E o pão aos pássaros

Francisco José Viegas
Olhos de Água

segunda-feira, agosto 03, 2009

Amália Hoje - Medo!...




O medo veste-nos de cores frageis e desaparecidas em esquinas que se dobram com tanto esforço!....

annadomar

domingo, agosto 02, 2009

Despede-te de mim!...


Despede-te de mim, bate devagar à porta:
tenho vontade de recomeçar, reerguer escombros,
ruínas, tarefas de pão e linho, não dar
nome às coisas senão o de um vago esquecimento,
abandono. Despede-te de mim como se a vida
recomeçasse agora, não me procures onde
a memória arde e o destino se ausenta.
tudo são banalidades, afinal, quando assim
se recomeça e a vida falha como um material
solar e ilhéu. Levamos poucas coisas, basta
um pouco de ar, os objectos fixos, em repouso,
os muros brancos de uma casa, o espaço
de uma mão. Arrumo as malas e os sinais,
aquilo que nos adormece em plena tempestade.


De amor de O medo do Inverno em Metade da Vida, Quasi edições, Vila Nova de Famalicão
Francisco José Viegas