sábado, outubro 19, 2024
Há um som de fundo
Em blues de Outono.
O calor mantém-se
Neste tempo, que seria de frio
Voo pela memória, renovada
Com sobressaltos calculados
Neste tempo, que seria de chuva
Entram desesperos de poucas palavras
Pela janela cheia de silêncios, desencontros
Espreito a alma, desocupada de afetos
Neste tempo, que seria outro qualquer que não este.
annadomar
19/10/2024
quinta-feira, outubro 29, 2020
sábado, novembro 09, 2019
quinta-feira, maio 04, 2017
sábado, abril 29, 2017
Têm cores fulgurantes
Deslizam entre os dedos
Dos putos da minha rua
Ouvem-se gargalhadas e
zangas, a batota está presente.
E o árbito, e o árbito, cada um deles
à vez, vai cumprindo esse papel.
Não me aproximo da janela
para não estragar estes momento
tão raros, de uma infância perdida
annadomar
tão raross
quinta-feira, abril 27, 2017
O Teu Riso
Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas
não me tires o teu riso.
Não me tires a rosa,
a flor de espiga que desfias,
a água que de súbito
jorra na tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.
A minha luta é dura e regresso
por vezes com os olhos
cansados de terem visto
a terra que não muda,
mas quando o teu riso entra
sobe ao céu à minha procura
e abre-me todas
as portas da vida.
Meu amor, na hora
mais obscura desfia
o teu riso, e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, porque o teu riso será para as minhas mãos
como uma espada fresca.
Perto do mar no outono,
o teu riso deve erguer
a sua cascata de espuma,
e na primavera, amor,
quero o teu riso como
a flor que eu esperava,
a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.
Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
curvas da ilha,
ri-te deste rapaz
desajeitado que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando os meus passos se forem,
quando os meus passos voltarem,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas o teu riso nunca
porque sem ele morreria.
Pablo Neruda, in "Poemas de Amor de Pablo Neruda
tira-me o ar, mas
não me tires o teu riso.
Não me tires a rosa,
a flor de espiga que desfias,
a água que de súbito
jorra na tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.
A minha luta é dura e regresso
por vezes com os olhos
cansados de terem visto
a terra que não muda,
mas quando o teu riso entra
sobe ao céu à minha procura
e abre-me todas
as portas da vida.
Meu amor, na hora
mais obscura desfia
o teu riso, e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, porque o teu riso será para as minhas mãos
como uma espada fresca.
Perto do mar no outono,
o teu riso deve erguer
a sua cascata de espuma,
e na primavera, amor,
quero o teu riso como
a flor que eu esperava,
a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.
Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
curvas da ilha,
ri-te deste rapaz
desajeitado que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando os meus passos se forem,
quando os meus passos voltarem,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas o teu riso nunca
porque sem ele morreria.
Pablo Neruda, in "Poemas de Amor de Pablo Neruda
sábado, abril 05, 2014
terça-feira, fevereiro 12, 2013
quinta-feira, outubro 04, 2012
sábado, agosto 11, 2012
sábado, junho 02, 2012
Tenho para mim, que o tempo foge e procura esconder-se
Das perguntas que se soltam, das pétalas brancas de uma rosa
antes de ti!
Então, percorro os corredores da memória e visto as histórias
escritas nas paredes do ersquecimento.
São ondas de saudade, que me trazem o cheiro das
manhãs jogadas ao chão.
São ondas de saudade, que me trazem o sentir dos teus passos
caminhando para mim!...
annadomar
domingo, abril 22, 2012
segunda-feira, janeiro 30, 2012
sábado, outubro 15, 2011
sexta-feira, outubro 14, 2011
Privatize-se...
Privatize-se tudo, privatize-se o mar e o céu, privatize-se a água e o ar, privatize-se a justiça e o sonho, sobretudo se for diurno e de olhos abertos.Privatize-se a lei,privatize-se a nuvem que passa.E finalmente, para florão e remate de tanto privatizar, privatizem-se os Estados, entregue-se por uma vez a exploração deles a empresas privadas, mediante concurso internacional. Aí se encontra a salvação do mundo.. e, já agora, privatize-se também a puta que os pariu a todos.'
José Saramago - Cadernos de Lanzarote - Diário III - pag. 148
segunda-feira, agosto 22, 2011
A solidão!...
A solidão é viscosa, escorrega pelos dedos
Por vezes senta-se diante do mar,
em silêncio, com os seus fantasmas
renovados.
São fins de tarde tristes, em que a agonia
A visita atrevida, despudorada, disfarçada de
companheira!
De repente levanta-se, caminha sem fim
e acalma a maresia, que lhe enche a alma!...
annadomar
quinta-feira, julho 07, 2011
Viagem!
Aparelhei o barco da ilusão
E reforcei a fé de marinheiro.
Era longe o meu sonho, e traiçoeiro
O mar...
(Só nos é concedida
Esta vida
Que temos;
E é nela que é preciso
Procurar
O velho paraíso
Que perdemos).
Prestes, larguei a vela
E disse adeus ao cais, à paz tolhida.
Desmedida,
A revolta imensidão
Transforma dia a dia a embarcação
Numa errante e alada sepultura...
Mas corto as ondas sem desanimar.
Em qualquer aventura,
O que importa é partir, não é chegar.
*ANTÓNIO GEDEÃO
sexta-feira, junho 17, 2011
Bateram à porta, a medo fui abrir, era a saudade disfarçada de palavras antigas, emoções já vividas,com o tempo a envelhecer a vontade de voltar o ponto em que ficaramos a conversar.
Eram palavras tolas , gargalhadas descuidadas, sentires passados numa África escrita no peito aberto.Foi um momento estranho entre o sonho e o irreal, que deixou marcas para que a verdade fosse ouvida!
annadomar
quarta-feira, março 30, 2011
terça-feira, março 08, 2011
quinta-feira, janeiro 27, 2011
Com Passos...
Com passos de nevoeiro saiste de mim e disseste
agora vou morrer noutro corpo
para que nunca mais tenha na minha pele o pânico
das madrugadas que me levavam ao remorso
de acordar no mais fundo de ti
saíste com passos de nevoeiro
e disseste desculpa ser assim
e eu nem respondi porque sabia
que não eras tu que desaparecias mas apenas
o que em teu nome um dia tinha vindo
para que eu não morresse tão longe do lugar do amor
in,Dois Corpos Tombando na Água
Alice Vieira
sexta-feira, novembro 05, 2010
domingo, outubro 31, 2010
Às vezes!...
Às vezes mergulhamos
no passado
encontramos, memórias, alegrias
choros, verdades, afectos
Deixamo-nos embarcar no tempo
que caíu em nós
Descobrimos um cais seguro, que nos
envolve num abraço
Tudo é (e) terno!...
Corremos ao longo do rio
Soltamos gargalhadas
O eco de felicidade faz-se ouvir
na outra margem, escura e bafienta
Mas aqui, aqui não os pássaros soltam-se do peito
Todas as manhãs do mundo
Guardo a saudade!
annadomar
sexta-feira, outubro 01, 2010
RETRATO DO POETA QUANDO JOVEM!
Há na memória um rio onde navegam
Os barcos da infância, em arcadas
De ramos inquietos que despregam
Sobre as águas as folhas recurvadas.
Há um bater de remos compassado
No silêncio da lisa madrugada,
Ondas brancas se afastam para o lado
Com o rumor da seda amarrotada.
Há um nascer do sol no sítio exacto,
À hora que mais conta duma vida,
Um acordar dos olhos e do tacto,
Um ansiar de sede inextinguida.
Há um retrato de água e de quebranto
Que do fundo rompeu desta memória,
E tudo quanto é rio abre no canto
Que conta do retrato a velha história
Jose Saramago
quarta-feira, setembro 01, 2010
Segue o teu destino!...
Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.
A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós-próprios.
Suave é viver só.
Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente.
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos deuses.
Vê de longe a vida.
Nunca a interrogues.
Ela nada pode
Dizer-te. A resposta
Está além dos deuses.
Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam
Ricardo Reis
terça-feira, julho 20, 2010
sexta-feira, junho 18, 2010
segunda-feira, maio 31, 2010
Gosto das Mulheres que Envelhecem!...
Gosto das
mulheres que envelhecem,
com a pressa das suas rugas, os cabelos
caídos pelos ombros negros do vestido,
o olhar que se perde na tristeza
dos reposteiros. Essas mulheres sentam-se
nos cantos das salas, olham para fora,
para o átrio que não vejo, de onde estou,
embora adivinhe aí a presença de
outras mulheres, sentadas em bancos
de madeira, folheando revistas
baratas. As mulheres que envelhecem
sentem que as olho, que admiro os seus gestos
lentos, que amo o trabalho subterrâneo
do tempo nos seus seios. Por isso esperam
que o dia corra nesta sala sem luz,
evitam sair para a rua, e dizem baixo,
por vezes, essa elegia que só os seus lábios
podem cantar.
Nuno Júdice
sábado, maio 15, 2010
AUSPICIOSO!...
“Auspicioso” é o nome do lugar
onde costumamos observar as aves que voam
e que nada inventam para serem naturais.
Ninguém nota, mas nós chamamo-las,
pelo aceno da fímbria das nossas vestes
aos quatro ventos,
e quando, nos madrigais que inventamos,
a voz das nossas mãos se dá,
planamos nós também,
por sobre os acomodados vales,
de braços abertos às brisas suaves
como sinos de cristais.
Ali reconstruiremos a nossa casa,
retiraremos os escombros,
a fuligem e a espessura do pó
da nossa morada,
e as nossas portas não serão portas,
mas fios de flores
que nos perfumarão
a entrada
de cada amanhecer.
Teresa Castro
onde costumamos observar as aves que voam
e que nada inventam para serem naturais.
Ninguém nota, mas nós chamamo-las,
pelo aceno da fímbria das nossas vestes
aos quatro ventos,
e quando, nos madrigais que inventamos,
a voz das nossas mãos se dá,
planamos nós também,
por sobre os acomodados vales,
de braços abertos às brisas suaves
como sinos de cristais.
Ali reconstruiremos a nossa casa,
retiraremos os escombros,
a fuligem e a espessura do pó
da nossa morada,
e as nossas portas não serão portas,
mas fios de flores
que nos perfumarão
a entrada
de cada amanhecer.
Teresa Castro
terça-feira, maio 04, 2010
O Poema Original!
Original é o poeta
que se origina a si mesmo
que numa sílaba é seta
noutra pasmo ou cataclismo
o que se atira ao poema
como se fosse ao abismo
e faz um filho às palavras
na cama do romantismo.
Original é o poeta
capaz de escrever em sismo.
Original é o poeta
de origem clara e comum
que sendo de toda a parte
não é de lugar algum.
O que gera a própria arte
na força de ser só um
por todos a quem a sorte
faz devorar em jejum.
Original é o poeta
que de todos for só um.
Original é o poeta
expulso do paraíso
por saber compreender
o que é o choro e o riso;
aquele que desce à rua
bebe copos quebra nozes
e ferra em quem tem juízo
versos brancos e ferozes.
Original é o poeta
que é gato de sete vozes.
Original é o poeta
que chega ao despudor
de escrever todos os dias
como se fizesse amor.
Esse que despe a poesia
como se fosse mulher
e nela emprenha a alegria
de ser um homem qualquer.
Ary dos Santos, in 'Resumo'
que se origina a si mesmo
que numa sílaba é seta
noutra pasmo ou cataclismo
o que se atira ao poema
como se fosse ao abismo
e faz um filho às palavras
na cama do romantismo.
Original é o poeta
capaz de escrever em sismo.
Original é o poeta
de origem clara e comum
que sendo de toda a parte
não é de lugar algum.
O que gera a própria arte
na força de ser só um
por todos a quem a sorte
faz devorar em jejum.
Original é o poeta
que de todos for só um.
Original é o poeta
expulso do paraíso
por saber compreender
o que é o choro e o riso;
aquele que desce à rua
bebe copos quebra nozes
e ferra em quem tem juízo
versos brancos e ferozes.
Original é o poeta
que é gato de sete vozes.
Original é o poeta
que chega ao despudor
de escrever todos os dias
como se fizesse amor.
Esse que despe a poesia
como se fosse mulher
e nela emprenha a alegria
de ser um homem qualquer.
Ary dos Santos, in 'Resumo'