segunda-feira, junho 30, 2008

Falling - Alicia Keys

domingo, junho 29, 2008

Todos partem!...



Chega o Verão

e com ele a ausência maior

todos partem

não interessa para onde

às vezes só para o fundo

do quintal

mas partem!...

Quem fica , se ficam,

atravessam as ruas vazias

esperam a proximidade dos carros

para sentirem o calor dos escapes

junto à cara, como beijo roubado

Depois, do outro lado da rua

sorriem para a imensidão vazia

Todos partem, quase todos!...

annadomar

quinta-feira, junho 26, 2008

O soluço!...



Suspende-se o soluço

Em palavras filtradas

pela saudade.

Um abraço antigo chegou pela tarde

com o estio às costas.

Já nada é igual!...

Estoiram no peito memórias

Do outro lado do oceano

São histórias aos tropeços

Onde já existi

Percorro com o olhar toldado

esse tempo. Não trouxe pessoas

Trouxe mágoas, que mataram

o soluço de águas azuis!...

annadomar

quarta-feira, junho 25, 2008

Memória do Ghetto!...


como peixe diurno que o rio veste


digo água nas tuas extensas margens


ó caçadora e como a monção em teu peito


deixo a loucura em teus cabelos a canção colored


em teus pulsos a grande voz que sibilia nas montanhas






David Mestre


Do livro: "Crónica do Ghetto",


Cadernos Capricórnio, 1973, Angola/África

terça-feira, junho 24, 2008


Entre choupos, percorri
O caminho de regresso ao princípio.
No ar o cheiro a pão fresco
Das manhãs claras
Em que o teu olhar é transparente
E pertence-me!
A casa ainda quieta
Fala de sonhos desta noite
Cusca pelos cantos
Segredos guardados
Em caixas de madrepérola
Vai juntando inquietudes
Numa luz difusa entre nós
O dia amanhece com nós!...


annadomar



quinta-feira, junho 19, 2008

Ofício de Amar!...



Já não necessito de ti

Tenho a companhia nocturna dos animais e a peste

Tenho o grão doente das cidades erguidas no princípio

De outras galáxias, e o remorso.....

.....um dia pressenti a música estelar das pedras

abandonei-me ao silencio.....

é lentíssimo este amor progredindo com o bater do coração não,

não preciso mais de mim

possuo a doença dos espaços incomensuráveis

e os secretos poços dos nómadas

ascendo ao conhecimento pleno do meu deserto

deixei de estar disponível, perdoa-me se cultivo

regularmente a saudade do meu próprio corpo.



AL BERTO

quarta-feira, junho 18, 2008

No silêncio dos olhos!...





Em que língua se diz, em que nação,
Em que outra humanidade se aprendeu
A palavra que ordene a confusão
Que neste remoinho se teceu?
Que murmúrio de vento, que dourados
Cantos de ave pousada em altos ramos
Dirão, em som, as coisas que, calados,
No silêncio dos olhos confessamos?




José Saramago
Os Poemas Possíveis

terça-feira, junho 17, 2008

Pearls" Josh Groban with Angelique Kidjo




Vale a pena parar de repente e ouvir o grito de África a duas vozes.Mas qual delas a melhor! Intenso e comovente, apetece partilhar!...

segunda-feira, junho 16, 2008

Arde o olhar!...



Arde o olhar,

na tarde silente

passeias em mim

palavras soltas

de múrmurios escondidos.

Subtrai o tempo

em que a dor foge

aconchegando-se no colo,

vergado ao dia, entre as

copas das árvores!...

annadomar

quinta-feira, junho 12, 2008

Se do claustro fechado das minhas mãos vazias!...



Se do claustro fechado das minhas mãos vazias
brotassem árvores refloridas de espanto;
Se, dos rios de pedras sem margens,
nautas caravelas encetassem rotas de viagens
e a saliva escorresse lívida, leitosa, amamentando
a Noite que chora... na boca da tua Rosa...
E dos teus lábios gelados se soltassem
Begónias singelas, em forma de palavras ...

Se as Andorinhas voltassem ao pousio
do barro dos ninhos na hora ruborescida
do final de todas as tardes. E se as traças
não devorassem os bordados dos lençóis nupciais
e os brocados de castas toalhas, nos enxovais
dos sentidos virgens por casar ...

E no olival as árvores erguidas não fossem mais
que somente vultos sinistros, retorcidos, confusos,
desenhados em registos de sombras a carvão,
no pálido fundo de cal - nos muros intransponíveis
do teu escuro quintal. Os seus frutos ovalados -
grossos bagos - , se projectassem em turbinas de luz,
alúmen da candeia, efervescente luminescência,
nas pupilas rasgadas do teu olhar fundo de Mar ...

Te digo, meu Amor ... dispensaria neste Mundo
o brilho de todas as Constelações de Estrelas.
Tu serias o meu Sol eternamente a brilhar!

Mel de Carvalho

domingo, junho 08, 2008

Apaixone-se!...

Assim termina um Domingo tão igual a tantos outros, infinitamente igual!...

quinta-feira, junho 05, 2008

A cidade é um chão de palavras pisadas!...




A cidade é um chão de palavras pisadas

a palavra criança a palavra segredo.

A cidade é um céu de palavras paradas

a palavra distância e a palavra medo.


A cidade é um saco um pulmão que respira

pela palavra água pela palavra brisa

A cidade é um poro um corpo que transpira

pela palavra sangue pela palavra ira.


A cidade tem praças de palavras abertas

como estátuas mandadas apear.

A cidade tem ruas de palavras desertas

como jardins mandados arrancar.


A palavra sarcasmo é uma rosa rubra.

A palavra silêncio é uma rosa chá.

Não há céu de palavras que a cidade não cubra

não há rua de sons que a palavra não corra

à procura da sombra de uma luz que não há.



José Carlos Ary dos Santos

domingo, junho 01, 2008

E Deus Expulsou Adão!...


E Deus expulsou Adão
com golpes de cana-de-açúcar
E assim fabricou o primeiro rum na terra
E Adão e Eva cambalearam
pelos vinhedos do Senhora Santíssima Trindade
os encurralava
mesmo assim continuaram cantando
com voz infantil de tabuada
Deus e Deus quatro
Deus e Deus quatro
E a Santíssima Trindade chorava…
Por cima do triângulo isóscele e sagrado
um biângulo isopicante brilhava
e eclipsava o outro.
Jacques Prévert
de “Histoires” (1963