quarta-feira, outubro 31, 2007

Os três pratos!...


Quando o camponês descobriu que a sua mulher o traiu, obrigou-a a preparar a mesa para três.
E durante o resto da vida comeram comtenplando, diante deles, o terceiro prato vazio.
In, Histórias Para Uma Noite De Calmaria,
Tonino Guerra

terça-feira, outubro 30, 2007

É nas noites secretas e silenciosas que esta música se solta, é mágica e apetece aquietar num canto da sala enquanto rodopiam memórias tão antigas como o cheiro do orvalho!...annadomar

domingo, outubro 28, 2007


"A coisa mais injusta sobre a vida é a maneira como ela termina. Eu acho que o verdadeiro ciclo da vida está todo de trás pra frente. Nós deveríamos morrer primeiro, nos livrar logo disso. Daí viver num asilo, até ser chutado pra fora de lá por estar muito novo. Ganhar um relógio de ouro e ir trabalhar. Então você trabalha 40 anos até ficar novo o bastante pra poder aproveitar sua aposentadoria. Aí você curte tudo, bebe bastante álcool, faz festas e se prepara pra faculdade. Você vai pro colégio, tem várias namoradas, vira criança, não tem nenhuma responsabilidade, se torna um bebezinho de colo, volta pro útero da mãe, passa seus últimos nove meses de vida flutuando....E termina tudo com um ótimo orgasmo!!! Não seria perfeito?"



(Charles Chaplin)

quinta-feira, outubro 25, 2007

Gosto tanto!...

Paciência!...



Uma voz vadia repete sem fim

a mesma lenga lenga.

Um soalho antigo transpira palavras

que foi ouvindo ao longo dos tempos

Um corpo atravessa a claridade

Sufocado no bafio dos pensamentos

Que se escondem nos cantos da casa

Com a alma expatriada, inventa fins de tarde

Suaves e azuis que encandeiam o olhar

A espera faz-se de paciência!...

annadomar

quarta-feira, outubro 24, 2007

e de súbito!...

E de súbito desaba o silêncio.
É um silêncio sem ti,
sem álamos,sem luas.
Só nas minhas mãos
ouço a música das tuas..


Eugénio de Andrade

terça-feira, outubro 23, 2007

A chuva...


A chuva
Que molha a inocência!...
annadomar

sábado, outubro 20, 2007

A claridade!...



o tempo, subitamente solto pelas ruas e pelos dias,
como a onda de uma tempestade a arrastar o mundo,
mostra-me o quanto te amei antes de te conhecer.
eram os teus olhos, labirintos de água, terra, fogo, ar,
que eu amava quando imaginava que amava.
era a tua a tua voz que dizia as palavras da vida
era o teu rosto. era a tua pele. antes de te conhecer,
existias nas árvores e nos montes e nas nuvens
que olhava ao fim da tarde. muito longe de mim,
dentro de mim, eras tu a claridade.


José Luis Peixoto

sexta-feira, outubro 19, 2007

Outubro!...

Repartida por pequenos actos
Outubro escorre pela janela
Melancólico e quente
As palavras estão presas no silêncio
em retalhos de memória
São tempos intimistas
De monólogos tristes
Em que o olhar se perde
Num céu de fogo que incendeia,
os sentidos, a vontade, o gesto
Escorregam os dias, com Outubro
De lábios vermelhos...

annadomar

quarta-feira, outubro 17, 2007

... O amor!...


"...O amor é capaz de converter as coisas mais baixas e vis, sem qualquer valor, em coisas dignas e elevadas. O amor não vê com os olhos, mas sim com a alma, e por isso pintaram cego o alado Cupido. Nem o Amor revelou alguma vez discernimento. Cego e alado é emblema da sua imprudente impetuosidade: diz-se que o amor é como uma criança, porque na sua escolha erra frequentemente. Tal como os rapazes traquinas que a brincar negam as suas faltas, assim mente o Amor...."

Shakespeare
Sonho de Uma Noite de Verão
Fala de Helena - Cena I - Primeiro Acto

segunda-feira, outubro 15, 2007

Fugir....


(...)

Fugir do verbo que permanente te chama, em pranto
algoz e farto, fazendo de cada onda,
ondulado,verde planalto,
e das grades frias desta noite agoniada,
desta noite a respirar saudade
nos poros do novo dia,
a cada inoportuna madrugada.
Deixa que me parta e que não volte,
deixa que tombe na dor do desalento,
na enseada agasalhada
em torrentes de mágoa e morte.
Deixa que me cubram a boca plúmbea
no manto de magnólias, orquídeas e açucenas.
Que as nuvens elevem mais alto que astros
as minhas magoadas, silenciadas penas.
E que, amado, deste promontório angulado
o meu corpo em labaredas de chamas
encontreem queda o Oceano nele colado.
Para sempre!
***
Publicado em: Luso-poemas

Mel de Carvalho

sábado, outubro 13, 2007

Michael Bublé - Home

Com a nostalgia colada à pele de fim de dia!...

quinta-feira, outubro 11, 2007

Um toque vermelho!...



um toque de vermelho

na memória parda

chega a tempo de enfeitar

o dia de vento na alma.

enquanto o tempo escava,

sentamo-nos na soleira da porta

observando gestos antigos, repetidos

ao limite do nosso olhar.

mas o vermelho repete-se,

repleto de lembranças!...

annadomar

quarta-feira, outubro 10, 2007

Epitáfio!...




Aqui jaz o Sol
Que criou a aurora
E deu a luz ao dia
E apascentou a tarde
O mágico pastor
De mãos luminosas
Que fecundou as rosas
E as despetalou.
Aqui jaz o Sol
O andrógino meigo
E violento, que
Possui a forma
De todas as mulheres
E morreu no mar.

Vinicius de Moraes

segunda-feira, outubro 08, 2007

Rodrigo Leão -

Manhã cinzenta , faz-me chorar!
quanto eu não daria para voltar atrás...

sexta-feira, outubro 05, 2007

Aurora Boreal!...




Tenho quarenta janelas

nas paredes do meu quarto.
Sem vidros nem bambinelas
posso ver através delas
o mundo em que me reparto.
Por uma entra a luz do Sol,
por outra a luz do luar,
por outra a luz das estrelas
que andam no céu a rolar.
Por esta entra a Via Láctea
como um vapor de algodão,
por aquela a luz dos homens,
pela outra a escuridão.
Pela maior entra o espanto,
pela menor a certeza,
pela da frente a beleza
que inunda de canto a canto.
Pela quadrada entra a esperança
de quatro lados iguais,quatro arestas,
quatro vértices,quatro pontos cardeais.
Pela redonda entra o sonho,
que as vigias são redondas,
e o sonho afaga e embala
à semelhança das ondas.
Por além entra a tristeza,
por aquela entra a saudade,
e o desejo, e a humildade,
e o silêncio, e a surpresa,
e o amor dos homens, e o tédio,
e o medo, e a melancolia,
e essa fome sem remédio
a que se chama poesia,
e a inocência, e a bondade,
e a dor própria, e a dor alheia,
e a paixão que se incendeia,
e a viuvez, e a piedade,
e o grande pássaro branco,
e o grande pássaro negro
que se olham obliquamente,
arrepiados de medo,

todos os risos e choros,
todas as fomes e sedes,
tudo alonga a sua sombra
nas minhas quatro paredes.
Oh janelas do meu quarto,
quem vos pudesse rasgar!
Com tanta janela aberta
falta-me a luz e o ar.


António Gedeão
Obra Poética
Edições João Sá da Costa
2001

quinta-feira, outubro 04, 2007

Havia marinheiros!...

Havia marinheiros
No país de Helena
Que morriam ao pôr do sol
E havia Helena que sonhava
Fazer um dia tranças às ondas
E um berço muito grande para o mar


Daniel Faria

terça-feira, outubro 02, 2007

Dois Corpos Tombando na Água!...

entrego-te as palavras
que entre meus dedos construí
para alimentar de ti os recantos da casa
invadindo o coração da noite
entrego-te as palavras com a redonda luz
das maçãs sobre a mesa e o rumor da água
rasgando o caminho da paixão
em horas que já não conseguimos sem ajuda recordar
mas que habitam a mais frágil
memória de nós próprios
palavras jorrando dos meus olhos
invadindo-te o sono e tropeçando
nas esquinas das frases que decoro
ao longo dos veios da tua pele

Alice Vieira