segunda-feira, dezembro 31, 2007

Meu amor!...

no teu peito de coragem
feito de pedras e cardos
há um país de viagem
e vinhos de cada cor
verdes maduros bastardos.
Há uma pedra de cal
em cada olhar que respira
há uma dor que já dura
desde que dura a mentira
há um muro levantado
numa seara madura.
Verde mar
verde limão
são os teus olhos de medo
o vento é este segredo
que escreve em cada manhã
o nome dela na erva
numa folha numa pedra
nos bagos de uma romã.
Acendo-te uma fogueira
nas tuas mãos acordadas
dou-te flores de laranjeira
dou-te ruas dou-te estradas
dou-te palavras secretas
dou-te coragem e setas
dou-te os meus dedos crispados
ponho cravos amarelos
à volta dos teus cabelos
dou-te o meu sangue vermelho
e o meu canto proibido
Dou-te o meu nome raíz
há muito tempo arrancada
dou-te esta calma guardada
nos homens do meu país
dou-te a fome
do meu canto
dou-te os meus braços em cruz
e as mãos feitas num crivo
dou-te os meus pulsos abertos
mas é por outra que vivo.

Joaquim Pessoa

domingo, dezembro 30, 2007

Mesmo no fim!...


Mesmo a chegar ao fim o Ano de 2007, não sei se o que vem aí será melhor... este esgotou a sua capacidade de desagradar!
Para 2008, espera-se que no horizonte de cada um de nós existam pessoas boas capazes de nos darem a mão, capazes de nos ouvirem, para que o eco da nossa própria voz não escorra bafiento na alma.
Para aqueles que estiveram verdadeiramente comigo, que o novo Ano vos traga o som primeiro das gargalhadas felizes!...
annadomar

sábado, dezembro 22, 2007

Por último!...


quinta-feira, dezembro 20, 2007

Perdido de ti!...



A tua vida é fugaz , corres pela noite

fria e ignóbil

numa solidão ácida e desprotegida.

perdeste as cores do olhar

outrora verde, mágico, profundo!

sabes de cor o nome das madrugadas brancas

em que te perdes de ti e do outro.

Contas os passos, que te levam ao vazio

de existires num tempo sem amanhã!...

annadomar

quarta-feira, dezembro 19, 2007

Então é Natal!...

UM BOM NATAL A TODOS OS QUE AQUI CHEGAREM!...annadomar

terça-feira, dezembro 18, 2007

Um beijo sem nome!...



"Quando te disse que era da terra selvagem
do vento azul
e das praias morenas...do arco-iris das mil cores
do sol com fruta madura
e das madrugadas serenas... das cubatas e musseques
das palmeiras com dendém
das picadas com poeira
da mandioca e fuba também...
das mangas e fruta pinha
do vermelho do café
dos maboques e tamarindos
dos cocos, do ai u'é...
das praças no chão estendidas com missangas de mil cores
os panos do Congo e os kimonosos aromas, os odores...
dos chinelos no chão quente
do andar descontraido
da cerveja ao fim de tarde
com o sol adormecido...
dos merenges e do batuque
dos muquixes e dos mupungos
dos imbondeiros e das gajajas
da macanha e dos maiungos.
da cana doce e do mamão
da papaia e do cajú...
tu sorriste e sussurraste

"Sou da mesma terra que tu!"

Ana Paula Lavado
in, Vozes ao Vento

segunda-feira, dezembro 17, 2007

Porque!...


Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.
Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.
Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.


Sophia de Mello Breyner

domingo, dezembro 16, 2007

Antes de tudo!...


Muito lenta , lentamente ela virou a cabeça , deixando-a cair sobre o ombro dele, adormeceu profundamente. Ele esperou paciente quase sem respirar, a sua ausência próxima.
Quando acordou, era um dia que se fechava.
Pendurou o olhar no dele, sorriu suavemente e partiu de novo!...

annadomar

sexta-feira, dezembro 14, 2007

Os rios!...


Às vezes os rios dentro de nós

correm escuros

Contra a foz , contra o vento


À tona de água respiramos,

no fundo, morremos

um pouco mais!...


annadomar

quarta-feira, dezembro 12, 2007

É por ti!...

É por ti que se enfeita e se consome,
Desgrenhada e florida, a Primavera
É por ti que a noite chama e espera

És tu quem anuncia o poente nas estradas,
É o vento torcendo as árvores desfolhadas
Canta e grita que tu vais chegar.


Sophia de Mello Breyner Andresen - Obra Poética

terça-feira, dezembro 11, 2007

José Mário Branco




Em tempos de pobreza é bom lembrar!...

segunda-feira, dezembro 10, 2007

este final!...

"Este final de Setembro, o mês dos meus anos, tem-me custado. Perguntas sobre perguntas acerca de mim mesmo e a angústia do sentido da vida e da forma como me relaciono com ela. O que posso fazer? Há um livro a sair agora, trabalho noutro: e depois? Que significa isso para mim? Os meus defeitos aparece-me de forma muito clara e dolorosa. Não só os meus defeitos: as minhas insuficiências, os meus erros. Sempre imaginei que um livro resgatava tudo: não resgata. E no entanto continuo a escrever, como se esse acto contivesse em si a minha salvação. Sei bem que chegará um tempo em que apenas os livros hão-de contar porque eu, enquanto pessoa, não tenho importância alguma, às vezes nem para mim mesmo. Vou-me olhando de forma cada vez mais distanciada e sem indulgência. A impressão, melhor: a certeza de ter falhado. O quê? Não estou deprimido, não me sobra tempo para depressões, sou apenas um homem, diante do seu espelho interior, que não gosta do que vê. O que poderia ter feito? O que deveria ter feito? Esta permanente tortura que a gente disfarça. A ideia recorrente que aquilo, quer dizer que a única coisa que a vida nos dá é um certo conhecimento dela que chega tarde demais, sempre tarde demais. (...)"


António Lobo Antunes,
in Visão, 18 de Outubro 2007

sábado, dezembro 08, 2007

O nome da ausência!..

O sotão: era ali
que o mundo começava. Ainda
não sabias, então,
quantas letras te seriam
necessárias para soletrar
o alfabeto dos dias, para encher
a tua caixa
de música, a tua concha
de areia. E ainda
o não sabes hoje. Com cinza
nada se escreve a não ser
as vogais do silêncio. E este
é o nome que se dá à ausência,
quando a noite e a poeira
dos astros pousam
sobre a ranhura dos olhos.

Albano Martins

sexta-feira, dezembro 07, 2007



Juntos observam o Mundo e conversam entre si!...

annadomar

quinta-feira, dezembro 06, 2007

onde estiveres...





Onde estiveres, eu estou
Onde tu fores, eu vou
Se tu quiseres assim,
Meu corpo é o teu mundo,
Um beijo um segundo,
És parte de mim.
Para onde olhares
Eu corro,
Se me faltares
Eu morro
Quando vieres,
Distante
Solto as amarras,
E tocam guitarras por ti
como dantes.
Agarra-me esta noite,
Sente tempo que eu perdi,
Agarra-me esta noite,
Que amanhã não estou aqui
Agarra-me esta noite,
Sente tempo que eu perdi,
Agarra-me esta noite,
Que amanhã não estou aqui...



Pedro Abrunhosa

terça-feira, dezembro 04, 2007

neo-real




o poema passeia pela cidade
tropeçando nas pernas dos transeuntes.
deambula cheio de hesitação,
a pensar se o revólver
carregado pelo menino-e sua
vida curta-estará em algum verso.
a duvidar que a existência
vivida no ápice do desprezo pela vida,
na ponta de uma bala,
contenha em si algum lirismo.
talvez um violento lirismo neo-real
que dá a mão aos dramas mais comuns.
lá os dias são facas.
silvia chueire

segunda-feira, dezembro 03, 2007

a casa!...



há uma espera

em cada casa vazia

um bater soluçado de coração

um grito que vem do fundo

corre pelo soalho gasto

enquanto te debruças

na janela virada ao pranto!

annadomar

domingo, dezembro 02, 2007

Natal!...



Esta coisa do Natal enerva-me muito e cada vez mais com o passar dos anos. Há muitas décadas que perdeu graça , coincide com o desmanchar da magia de esperar o Pai Natal, acreditar nele, vê-lo e até poder tocar-lhe. Ainda hoje agradeço aos meus pais por terem tardiamente desvendado o segredo - foram anos mágicos esses!... Prolonguei isso pelas gerações posteriores, mas esqueci-me de lhes perguntar se gostaram dessa fantasia. Mas pela imagem dos olhos deles gordos de emoção, suponho, que são dispensáveis as palavras...
Escrever ao Pai Natal era a melhor coisa do Mundo, geralmente eu fazia um exercício mais de intenções do que de pedidos, contudo ia dizendo - mas se achares que eu mereço deixa por aqui qualquer coisinha , mas nunca mencionando o quê !...Não pedia muito, mas esperava muito e tinha na dose certa, um sapatinho recheado de afectos e coisas boas. Eram assim esses Natais!...
Agora, combina-se tudo previamente, justificando sempre o não gastar dinheiro em coisas inúteis, não é mau, mas perde-se o factor surpresa. Eu cá por mim sempre que posso vou furando o esquema!
Depois, com a idade vai -se perdendo sempre um lugar à mesa e ainda não demos a volta para uma criança desta última geração nos acompanhar nesses lugares vazios. Talvez aí eu torne a sentir a alegria da infância, fantasiando de novo, a chegada do Pai Natal!

annadomar