quinta-feira, janeiro 29, 2009

Poema da Utopia!...


A noite
caiu sem manchas e sem culpa.
Os homens largaram as máscaras
de bons actores. Findou o espectáculo.
Tudo o mais é arrabalde.
No alto, a utópica Lua vela comigo
E sonha coalhar de branco
as sombras do mundo.
Um palhaço, a seu lado,
sopra no ventre dos búzios.
Noite!
Se o espectáculo findou
Deixa-nos também dormir.

Fernando Namora

domingo, janeiro 25, 2009

Caderno de Porto Velho!...



escrevo o espaço que vai das
tuas mãos ao renque de alfazemas
sombra aprendida em aromáticos versos
desconheço ainda esta cidade
depois de tantos anos
mas aprecio
pela tarde o lento rir das áleas
avenidas de timbre meridional
casas onde ainda se pode descascar a fruta
atirar a casca para um alguidar partido
e onde na trégua do calor maior as crianças costeiras
tomam o alcatrão das ruas a areia das praias
rompem este silêncio de vagar portuário
de palavras como ruína que envolvem
o sentido do que escrevo
as tuas mãos ou o espaço que vai das
tuas mãos ao renque de alfazemas


Miguel Manso

quinta-feira, janeiro 22, 2009

Senhas!...


Eu não gosto do bom gosto

Eu não gosto de bom senso

Eu não gosto dos bons modos

Não gosto Eu aguento até rigores


Eu não tenho pena dos traídos

Eu hospedo infratores e banidos

Eu respeito conveniências

Eu não ligo pra conchavos


Eu suporto aparências

Eu não gosto de maus tratos

Mas o que eu não gosto é do bom gosto

Eu não gosto de bom senso


Eu não gosto dos bons modos

Não gosto

Eu aguento até os modernos

E seus segundos cadernos

Eu aguento até os caretas

E suas verdades perfeitas


O que eu não gosto é do bom gosto

Eu não gosto de bom senso

Eu não gosto dos bons modos

Não gosto


Eu aguento até os estetas

Eu não julgo competência

Eu não ligo pra etiqueta

Eu aplaudo rebeldias


Eu respeito tiranias

E compreendo piedades

Eu não condeno mentiras

Eu não condeno vaidades


O que eu não gosto é do bom gosto

Eu não gosto de bom senso

Não, não gosto dos bons modos

Não gosto


Eu gosto dos que têm fome

Dos que morrem de vontade

Dos que secam de desejo

Dos que ardem


Adriana Calcanhoto

sábado, janeiro 17, 2009

Solitude - Rodrigo Leão



Para fechar um sábado sem hitória!...

segunda-feira, janeiro 12, 2009

O papagaio!..



O papagaio soltou-se da mão do menino

chorou fechado em si

pediu ao vento que o trouxesse

sem resposta

voltou a casa mais triste que o habitual!...

annadomar

domingo, janeiro 11, 2009

Atravessei contigo a minuciosa tarde!...



deste-me a tua mão, a vida parecia
difícil de estabelecer
acima do muro alto
folhas tremiam
ao invisível peso mais forte.
Podia morrer por uma só dessas coisas
que trazemos sem que possam ser ditas:
astros cruzam-se numa velocidade que apavora
inamovíveis glaciares por fim se deslocam
e na única forma que tem de acompanhar-te
o meu coração bate.


José Tolentino de Mendonça

quinta-feira, janeiro 08, 2009

Cavatina - The Deer Hunter




Caiu-me na noite fria esta saudade tão antiga, tão presente!...

annadomar

segunda-feira, janeiro 05, 2009

Poema!...


Podemos falar dos sentimentos,

descreveras impressões que nos ameaçam,

e revelar o vazio

que se descobre na ausência um do outro:

nada, porém,é tão inquietante como a dúvida,

o não saber de ti, ouvir o desânimo na tua voz,

agora que a tarde começa a descer e,

com ela, todas as sombras da alma.

É verdade que o amor não é

apenas um registo de memórias. É no presente

que temos de o encontrar:aí, onde a tua imagem

se tornou mais real do que tu própria,

mesmo que nada te substitua.Então, é

porque as palavras são supérfluas; mas como viver

sem elas? Como encontrar outra forma de te dizer

que o amor é esta coisa tão estranha, dar o que nunca

se poderá ter, e ter o que está condenado

a perder-se? A não ser que guardemos dentro de nós,

num canto de um e outro a que só nós chegamos,

sabendo que esse pouco que nos pertence é

tudo o que cabe neste sentimento.



Nuno Júdice

in- Cartografia de Emoções

quinta-feira, janeiro 01, 2009

Pequeno pássaro!...




a mão é um pequeno pássaro
tocando a flor de laranjeira
pássaro e flor:poema inesperado
desabrochando
sob o sol nascente.
silvia chueire