terça-feira, agosto 29, 2006



Apetece de novo escrever cartas de amor

Apetece de novo desenhar o teu nome

Apetece de novo soletrar o voo voluptuoso das aves

Apetece de novo queimar o peito na paixão!...

annadomar

segunda-feira, agosto 28, 2006

A voz dos pássaros!


Todos os dias ao fim do dia isto acontece. Têm lugar marcado! Ai de quem não respeitar esta marca. Comunicam imenso, recordam o último Verão, pois está quase a partida de novo para Sul, onde tudo acontece. Os filhos, os afectos, os Países que atravessam, as tempestades,os amigos que perderam, as árvores que disputaram nas noites da vida, os seres pequeninos que vão vendo de cima, tão diferentes...mas...tão iguais... em tanta coisa má!

Mas tudo isto serve apenas para queimar o tempo, que antecede a hora de voltar ao ponto de partidas, em que o voo será fulgurante, as asas projectam arco-íris num céu roubado por instantes! Brincam com o vento Norte matreiro e perigoso, mas é um desafio infinito, que faz soltar sons, que enfeitam a alma.

Enquanto tudo isto acontece num fio suspenso, esqueço as horas paradas no meu relógio , que adianto para um tempo em que tanta coisa será diferente,tais como- o sorriso mais doce, o olhar mais transparente onde se projecte de novo o Mar, o peito mais aberto onde barcos aportem sem receio de baloiçarem,as mãos mais livres para segurarem âncoras carregadas de esperança.

Até lá, há que escutar a voz dos pássaros, antes que a noite seja noite dentro de nós!..

annadomar

sábado, agosto 26, 2006

Último poema!




Último poema

Assim eu quereria o meu último poema.
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação



Manuel Bandeira


Parou o vento, na tarde,

Um bater de corações

Estremece o peito

Água parada à espera

Da boleia, na próxima maré

A outra margem, tão longe,

tão longe, como nós!...

Caminho devagar, piso leve

Para não assustar a brisa

Que teima quente em voltar!

Parou o vento, já noite

em mim!...

annadomar

sexta-feira, agosto 25, 2006

Em viagem!...



Em viagem, emprestamos a alma
à paisagem.
Tornamo-nos nesse mesmo lugar
Em que a vida acontece!...

annadomar

quarta-feira, agosto 23, 2006

Ao pé!...



Ao de ti, perco o medo

de me encontrar

e saber que (co)existo!...

annadomar

segunda-feira, agosto 21, 2006



Há céus assim

Que nos peturbam, encantam,

Os azuis são mesmo azuis

Os brancos limpam os olhos

De um Mundo sujo

Onde o belo se embebeda

Atropelando as palavras

Acabadas de nascer

Em soluços escondidos

Há céus assim!...

annadomar

quinta-feira, agosto 17, 2006

Diante da tarde!



Diante da tarde
Tudo é sossego
Há um tempo de estar
No sofá enroscada
Com o gato quieto
A casa em penumbra
O mar turquesa
A fugir entre os pinheiros
Vergados à preguiça


É assim que apetece amar!...

annadomar

quarta-feira, agosto 16, 2006

Perto!



A lua tornou-se perto

A um passo de um voo

Tocando as asas

Beijando o sol

Num enamoramento total!

annadomar

segunda-feira, agosto 14, 2006

Às vezes!...



Às vezes ...

Já não somos o que poderíamos ser

Às vezes...

Perde-se o sentido de sabermos de nós

Às vezes...

O medo esmurra-nos a memória

Às vezes...

As viagens são de veleiros com panos brancos

Às vezes

Esperamos tanto, que adoeçemos de esquecimento!...

annadomar

domingo, agosto 13, 2006


Profundamente

Quando ontem adormeci
Na noite de São João
Havia alegria e rumor
Vozes cantigas e risos
Ao pé das fogueiras acesas.
No meio da noite despertei
Não ouvi mais vozes nem risos
Apenas balões
Passavam errantes
Silenciosamente
Apenas de vez em quando
O ruído de um bonde
Cortava o silêncio
Como um túnel.
Onde estavam os que há pouco
DançavamCantavamE riam
Ao pé das fogueiras acesas?— Estavam todos dormindo
Estavam todos deitados
Dormindo
Profundamente.

Quando eu tinha seis anos
Não pude ver o fim da festa de São João
Porque adormeci.
Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo
Minha avó
Meu avôTotônio Rodrigues
TomásiaRosa
Onde estão todos eles?— Estão todos dormindo
Estão todos deitados
Dormindo
Profundamente.

Manuel Bandeira

sábado, agosto 12, 2006



Adormeço na noite

Acordo no dia que não quero,

repetidamente!

Como se quebra a espiral

Destes despertares inquietos

Em que os círculos se fecham

Impiedosamente crueis!...

annadomar

quinta-feira, agosto 10, 2006

Tu eras uma folha só!...

Tu eras também uma pequena folha
que tremia no meu peito.
O vento da vida pôs-te ali.
A princípio não te vi:
não soube que ias comigo,
até que as tuas raízes
atravessaram o meu peito,
se uniram aos fios do meu sangue,
falaram pela minha boca,
floresceram comigo.

Pablo Neruda

Aviões na cabeça!...



Mãe , tenho aviões na cabeça

Dos de papel, não é filho!

Não, daqueles que transportam bombas

e queimaram a minha infância,

os meus amigos, o mano, o pai

Filho, esquece! Tenta dormir...

Amanhã, se houver amanhã,

Vamos ver o Mar!...

annadomar

quarta-feira, agosto 09, 2006



Há olhares que nos prendem

No fio exacto da emoção

Ficam a bailar e não caem

Suspensos na alma

São tão profundos

Que ficam para além de tudo

Quando me cruzo com eles

Acredito em anjos por instantes

Sou mais feliz

e procuro logo outro!...

annadomar

terça-feira, agosto 08, 2006



Até os corações já não são o que eram

Até o Mar os rouba, quando lambe a areia!

annadomar

ESTOU FARTA!...

Estou farta do calor, do barulho das ventoínhas, das alforrecas, da praias cheias , de Agosto, do desgosto, das bombas em Israel ou no Líbano ou no tanto faz,do supermercado cheio, dos incêndios...

Ufa! Interminável este estar farta!..

Tudo parece estar fora do sítio! Com a alma desarrumada, as noites quentes povoam-se se insónias , com voos rasantes de mosquitos que se riem, irritando-me ainda aqueles dentes mais brancos que os meus. Atiro-lhes com spray à tromba e aí é o descalabro , inventam voos artísticos e soltam gargalhadas em coro! Arre que também é de mais!...

De raiva deixo de respirar , mas logo me arrependo. Uma sensação de mais calor invade-me.De peito a arfar reinicio a inspiração muito lentamente,tentando
sobreviver a toda esta trapalhada em que me meti. Encho-me de nervos com a vizinha boazona que não para de passar mesmo rente à minha janela, o puto que grita, o telefone que não toca, a casa quieta!

ESTOU FARTA!... Vou continuar a minha guerra com os mosquitos trapezistas, vou tentar deixar de respirar por períodos mais alargados pode ser que me habitue, pela minha saúde não verei telejornais nos próximos tempos.

De repente lembrei-me que me cruzo com pessoas com um ar tão sorridente que até incomoda... Porque será? Das férias em casa , o aumento dos preços, as filas para o selo do carro, a praia do empurrão?...
ESTOU FARTA!... Acho tudo isto muito estranho, até lá vou tentar não respirar...

annadomar


segunda-feira, agosto 07, 2006

Tango Mio!


TANGO MIO


Perdi o passo.
Sem equilíbrio,
pisei no pé do caos.

Meu ócio antigo
se embriagava no bar,
cercado de inimigos.

O sonho não realizado fumava-se,
cabisbaixo, num degrau abaixo.

Adivinhei minha esperança
inteira lá fora,
no beco de Bandeira, mendigando
Ah, se em minha alma
tocasse funk...

Fabio Rocha

Dois...Apenas dois.
Dois seres...
Dois objectos patéticos.
Cursos paralelos
Frente a frente...
...Sempre...A se olharem...
Pensar talvez:
"Paralelos que se encontram no infinito"...
No entanto sós por enquanto.
Eternamente dois apenas.

Pablo Neruda

domingo, agosto 06, 2006


Saberás o que é isto?
Falo-te da dignidade
Há palmeiras nos meus olhos
Quietas como se fossem estátuas
Sinto que morro um pouco, quando
as olho neste imenso silêncio
Quanto ao voo das aves
Surpreende-me que o façam
Há uma mão percorrendo-me o rosto
Abrem-se sulcos, como rios sem margens
Há uma gota de água presa nas minhas grades
Ajudo-a a cair , fazendo-lhe o caminho
Sei-te para além de mim
Embora distante, sem a ternura habitual
Falo-te mais uma vez, desta indignidade
Saberás o que é isto?...
annadomar

quinta-feira, agosto 03, 2006

Já não é!...

Já não é o mar, nem este azul que me prende
Recebo ecos das marés que habitei
Coloco-me num ponto
Onde o infinito se esconde
Aninho-me no vento, de pás paradas
O sol atreve-se numa última investida
O dia acaba inocente
Como se nunca tivesse estado por aqui!...

annadomar

terça-feira, agosto 01, 2006

O rio....



Entre choupos e canaviais

Corre o rio longo e sereno

O silêncio é cortado apenas

pelo vento, sueste quente

Que atordoa o respirar, da

tarde silente!

Na água, o barco solitário

Deste rio do esquecimento

Enfrenta mais um dia,

que se espera feliz!...

annadomar