sexta-feira, agosto 31, 2007
quinta-feira, agosto 30, 2007
A noite do meu bem!...

Hoje eu quero a rosa mais linda que houver
E a primeira estrela que vier
Para enfeitar a noite do meu bem
Hoje eu quero a paz de criança dormindo
E o abandono das flores se abrindo
Para enfeitar a noite do meu bem
Quero a alegria de um barco voltando
Quero a ternura de mãos se encontrando
Para enfeitar a noite do meu bem
Ah! Eu quero o amor mais profundo
Eu quero toda a beleza do mundo
Para enfeitar a noite do meu bem
Ah! Como este bem demorou a chegar
Eu já nem sei se terei no olhar
Toda a ternura que eu quero lhe dar.
Dolores Duran
quarta-feira, agosto 29, 2007
Deixa ficar!...

Deixa ficar comigo a madrugada,
para que a luz do Sol me não constranja.
Numa taça de sombra estilhaçada,
deita sumo de lua e de laranja.
Arranja uma pianola, um disco, um posto,
onde eu ouça o estertor de uma gaivota...
Crepite, em derredor, o mar de Agosto...
E o outro cheiro, o teu, à minha volta!
Depois, podes partir. Só te aconselho
que acendas, para tudo ser perfeito,
à cabeceira a luz do teu joelho,
entre os lençóis o lume do teu peito...
Podes partir.
De nada mais preciso
para a minha ilusão do Paraíso.
para que a luz do Sol me não constranja.
Numa taça de sombra estilhaçada,
deita sumo de lua e de laranja.
Arranja uma pianola, um disco, um posto,
onde eu ouça o estertor de uma gaivota...
Crepite, em derredor, o mar de Agosto...
E o outro cheiro, o teu, à minha volta!
Depois, podes partir. Só te aconselho
que acendas, para tudo ser perfeito,
à cabeceira a luz do teu joelho,
entre os lençóis o lume do teu peito...
Podes partir.
De nada mais preciso
para a minha ilusão do Paraíso.
David Mourão-Ferreira
terça-feira, agosto 28, 2007
segunda-feira, agosto 27, 2007
domingo, agosto 26, 2007
De saudades!...

" O mais terrível é sentirmos a irreversibilidade do tempo. Que, mesmo quando tudo se repete, já nada se repete pela primeira vez. E nós gastamos como borrachas na demorada corrosão das coisas. Um dia acordamos e já não é a primeira vez. A não ser quando a paixão nos diz que, nupcial e navegante, cada gesto de amor é sempre o primeiro".
Eduardo Prado Coelho
(De Saudades, in Nacional e Transmissível)
sábado, agosto 25, 2007
Aproximei-me de ti...

e tu, pegando-me na mão.
puxaste-me para os teus olhos
transparentes como o fundo do mar para os afogados.
Depois, na rua,ainda apanhámos o crepúsculo.
As luzes acendiam-se nos autocarros;
um ar diferente inundava a cidade.
Sentei-menos degraus, do cais, em silêncio.
Lembro-me do som dos teus passos,
uma respiração apressada,
ou um princípio de lágrimas,
e a tua figura luminosa atravessando a praça
até desaparecer. Ainda ali fiquei algum tempo,isto é,
o tempo suficiente para me aperceber de que,
sem estares ali,continuavas ao meu lado.
E ainda hoje me acompanha
essa doente sensação que
me deixaste como amada
recordação
Nuno Judíce
sexta-feira, agosto 24, 2007
quinta-feira, agosto 23, 2007

"Com os anos a morte vai-se tornando familiar. Quero dizer não a ideia de morte, não o medo dela: a realidade dela. As pessoas de quem gostámos e partiram amputam-nos cruelmente de partes vivas nossas, e a sua falta obriga-nos a coxear por dentro. Parece que sobrevivemos não aos outros mas a nós mesmos, e observamos o nosso passado como uma coisa alheia: os episódios dissolvem-se pouco a pouco, as memórias esbatem-se, o que fomos não nos diz respeito, o que somos estreita-se."
do conto Uma festa no teu cabelo.
in Segundo livro de crónicas António Lobo Antunes
quarta-feira, agosto 15, 2007
Pedro Abrunhosa - Quem Me Leva Os Meus Fantasmas
Quem me diz onde é a estrada!...
Quem me leva os meus fantasmas...
terça-feira, agosto 14, 2007
Elegia!...

Nem os dias longos me separam da tua imagem.
Abro-a no espelho de um céu monótono, ou
deixo que a tarde a prolongue no tédio dos
horizontes. O perfil cinzento da montanha,
para norte, e a linha azul do mar,
a sul,dão-lhe a moldura cujo centro se esvazia
quando, ao dizer o teu nome, a realidade do
som apaga a ilusão de um rosto.
Então, desejo
o silêncio para que dele possas renascer,
sombra, e dessa presença possa abstrair a
tua memória.
Nuno Júdice
domingo, agosto 12, 2007
Sonho!...

Nem quero que pareça.
É por dentro que eu gosto que aconteça
A minha vida.
Íntima, funda, como um sentimento
De que se tem pudor.
Vulcão de exterior tão apagado,
Que um pastor
Possa sobre ele apascentar o gado.
Mas os versos, depois,
Frutos do sonho e dessa mesma vida,
É quase à queima-roupa que os atiro
Contra a serenidade de quem passa.
Então, já não sou eu que testemunho
A graça
Da poesia:
É ela, prisioneira,
Que, vendo a porta da prisão aberta,
Como chispa que salta da fogueira,
Numa agressiva fúria se liberta.
Miguel Torga
sexta-feira, agosto 10, 2007
20 años!...

"20 años de estar juntos
esta tarde se han cumplido
para ti flores, perfumes
esta tarde se han cumplido
para ti flores, perfumes
para mi,
algunos libros
No te he dicho grandes cosas
porque no me habrian salido
ya sabes cosas de viejos
requemor de no haber sido.
Hace tiempo que intentamos
abonar nuestro destino
tu bajabas la persiana
yo apuraba mi ultimo vino.
Hoy en esta noche fria
casi como ignorando el sabor
del la soledad compartida
quise hacerte una cancion
para cantar despacito
como se duerme a los niños
y ya ves,solo palabras
sobre notas me han salido
que al igual que tu y que yo
ni se importan ni se estorban
se soportan amistosas.
mas no son una cancion
que helada esta casa !
sera que esta cerca el rio
o es que estamos en invierno
y estan llegando,estan llegando...
los frios. "
abonar nuestro destino
tu bajabas la persiana
yo apuraba mi ultimo vino.
Hoy en esta noche fria
casi como ignorando el sabor
del la soledad compartida
quise hacerte una cancion
para cantar despacito
como se duerme a los niños
y ya ves,solo palabras
sobre notas me han salido
que al igual que tu y que yo
ni se importan ni se estorban
se soportan amistosas.
mas no son una cancion
que helada esta casa !
sera que esta cerca el rio
o es que estamos en invierno
y estan llegando,estan llegando...
los frios. "
Patxi Andion
quarta-feira, agosto 08, 2007
Em espera!...

Em espera,
a brisa trouxe-lhe a saudade
o vento sueste
e a vontade de desistir
Em espera
o dia fez-se noite
e esqueceu as tardes mornas
de palavras doces
Em espera
desenhou o rosto na memória
mas os olhos perdeu-os
em cada traço vincado
Mas em tempos, tinha-os de cor
Em todas as esperas, que já vivera!...
annadomar
terça-feira, agosto 07, 2007
segunda-feira, agosto 06, 2007
Ausência!...

Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo. Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim. E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços, que rio e danço e invento exclamações alegres, porque a ausência, essa ausência assimilada, ninguém a rouba mais de mim.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo. Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim. E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços, que rio e danço e invento exclamações alegres, porque a ausência, essa ausência assimilada, ninguém a rouba mais de mim.
Carlos Drummond de Andrade
sexta-feira, agosto 03, 2007
Os passos!...

Que caminho este que nos leva
Pelas fragas da alma
Pelas águas tranparentes
Dos passos entediados
Ainda há pouco tão nossos.
Perdemos o ritmo da canção
Que nos embalava ao anoitecer
Ficou a brisa quente do teu sorriso
Nos meus lábios desbotados
Enquanto a água arrefecia nos
pés descalços, atravessando
fontes azuis de promessas!....
annadomar
quinta-feira, agosto 02, 2007
Flutuar uma cidade!...

pensava eu...
como seriam felizes as mulheres à beira mar debruçadas
para a luz caiada remendando o pano das velas
espiando o mar e a longitude do amor embarcado
por vezes uma gaivota pousava nas águas outras
era o sol que cegava e um dardo de sangue alastrava
pelo linho da noite os dias lentíssimos...
sem ninguém e nunca me disseram o nome
daquele oceano esperei sentada à porta...
dantes escrevia cartas punha-me a olhar
a risca de mar ao fundo da rua assim envelheci...
acreditando que algum homem ao passar
se espantasse com a minha solidão
(anos mais tarde, recordo agora,
cresceu-me uma pérola no coração.
Mas estou só, muito só, não tenho a quem a deixar.)
um dia houve que nunca mais avistei cidades crepusculares
e os barcos deixaram de fazer escala à minha porta
inclino-me de novo para o pano deste século
recomeço a bordar ou a dormir tanto faz
sempre tive dúvidas que alguma vez me visite a felicidade
Al Berto
( a pedido aqui vai o poema)...
quarta-feira, agosto 01, 2007
A solidão da vida!...

O Deserto dos Tártaros,
de Dino Buzzati