quarta-feira, abril 30, 2008

Amores perfeitos!...



Há amores quase perfeitos

em dias cálidos como este

em que a água bebe a boca

das manhãs claras.

Um fio de tempo, borda

a tarde com a noite a chegar

Há amores quase perfeitos!...

annadomar

segunda-feira, abril 28, 2008

Em louvor do fogo!...






Um dia chega


de extrema doçura:


tudo arde.Arde a luz


nos vidros da ternura.


As aves,no branco


labirinto da cal.


As palavras ardem,


a púrpura das aves.


O vento,onde tenho casa


à beira do outono.


O limoeiro, as colinas,tudo arde


na extrema e lenta


doçura da tarde.


Vê como o verão


subitamente


se faz água no teu peito,


e a noite se faz barco,


e a minha mão marinheiro.




Eugénio de Andrade

sexta-feira, abril 25, 2008

E Depois do Adeus!...


Neste Abril que amornece!


Quis saber quem sou
O que faço aqui
Quem me abandonou
De quem me esqueci
Perguntei por mim
Quis saber de nós
Mas o mar
Não me traz
Tua voz.
Em silêncio, amor
Em tristeza e fim
Eu te sinto, em flor
Eu te sofro, em mim
Eu te lembro, assim
Partir é morrer
Como amar
É ganhar
E perder
Tu vieste em flor
Eu te desfolhei
Tu te deste em amor
Eu nada te dei
Em teu corpo, amor
Eu adormeci
Morri nele
E ao morrer
Renasci
E depois do amor
E depois de nós
O dizer adeus
O ficarmos sós
Teu lugar a mais
Tua ausência em mim
Tua paz
Que perdi
Minha dor que aprendi
De novo vieste em flor
Te desfolhei...
E depois do amor
E depois de nós
O adeus
O ficarmos sós.

Intérprete: Paulo de Carvalho
Música: José Niza
Letra : José Calvário

quarta-feira, abril 23, 2008


"E na palma da tua mão
busco ternura
sem contar meses, anos, dias,
sem saber dizer
se já te chorei
por inteiro
o suficiente
para nao voltar
a perder-te"

Vasco Gato
in "Um mover de mão

terça-feira, abril 22, 2008

Há um adágio triste!...


Há um Adágio triste

nos rios da alma

Há água que esvazia o tempo

tempo...tempo...tempo...

Seguramos a memória entre os dedos

ela foge pelas noites enlouquecida

Pela manhã, deita-se muito devagar

Com o dia ainda novo, sem riscos

Há água que esvazia o olhar

olhar...olhar...olhar...


annadomar

segunda-feira, abril 21, 2008

Sagres! Olhos nos olhos...



Quando os sonhos correm uma vida inteira, vale tão a pena!...

annadomar

sábado, abril 19, 2008

A carta da paixão!...


(Extracto)


As palavras que escrevo correndo
entre a limalha. A tua boca como um buraco luminoso,
arterial.
E o grande lugar anatómico em que pulsas como um lençol lavrado.
A paixão é voraz, o silêncio
alimenta-se
fixamente de mel envenenado. E eu escrevo-te
toda
no cometa que te envolve as ancas como um beijo.
Os dias côncavos, os quartos alagados, as noites que crescem
nos quartos.É de ouro a paisagem que nasce: eu torço-a
entre os braços. E há roupas vivas, o imóvel
relâmpago das frutas. O incêndio atrás das noites corta
pelo meio
o abraço da nossa morte. Os fulcros das caras
um pouco loucas
engolfadas, entre as mãos sumptuosas.
A doçura mata.
A luz salta às golfadas.
A terra é alta.Tu és o nó de sangue que me sufoca.
Dormes na minha insónia como o aroma entre os tendões
da madeira fria. És uma faca cravada na minha
vida secreta. E como estrelas
duplas
consanguíneas, luzimos de um para o outro
nas trevas.
Herberto Helder
PHOTOMATON & VOX
Assírio & Alvim1995

sexta-feira, abril 18, 2008

You are welcome to elsinore!...




Entre nós e as palavras há metal fundente
entre nós e as palavras há hélices que andam
e podem dar-nos morte violar-nos tirar
do mais fundo de nós o mais útil segredo
entre nós e as palavras há perfis ardentes
espaços cheios de gente de costas
altas flores venenosas portas por abrir
e escadas e ponteiros e crianças sentadas
à espera do seu tempo e do seu precipício

Ao longo da muralha que habitamos
há palavras de vida há palavras de morte
há palavras imensas, que esperam por nós
e outras, frágeis, que deixaram de esperar
há palavras acesas como barcos
e há palavras homens, palavras que guardam
o seu segredo e a sua posição

Entre nós e as palavras, surdamente,
as mãos e as paredes de Elsenor
E há palavras nocturnas palavras gemidos
palavras que nos sobem ilegíveis à boca
palavras diamantes palavras nunca escritas
palavras impossíveis de escrever
por não termos connosco cordas de violinos
nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
e os braços dos amantes escrevem muito alto
muito além do azul onde oxidados morrem
palavras maternais só sombra só soluço
só espasmo só amor só solidão desfeita

Entre nós e as palavras, os emparedados
e entre nós e as palavras, o nosso dever falar
Mario Cesariny

quarta-feira, abril 16, 2008

Papel!...

De todo o silêncio
ouço só o esplêndido
silêncio das árvores.
Pois o silêncio de quem fala
e cala
é incompleto.
Por isso, ouço o silêncio
distante das árvores que nunca vi.


Fabio Rocha

segunda-feira, abril 14, 2008

Rever...


Rever uma velha amizade
Ter fé em Deus
Não ter que ouvir a palavra não
Nem nunca, nem jamais e adeus.
Rir como criança
Ouvir canto de passarinho
Sarar de resfriado
Escrever um poema de Amor
Que nunca será rasgado
Formar um par ideal
Tomar banho de cachoeira
Pegar um bronzeado legal
Aprender uma nova canção
Esperar alguém na estação
Queijo com goiabada
Pôr-do-Sol na roça
Uma festa
Um violão
Uma seresta
Recordar um amor antigo
Ter um ombro sempre amigo
Bater palmas de alegria
Uma tarde amena
Calçar um velho chinelo
Sentar numa velha poltrona
Tocar violão para alguém
Ouvir a chuva no telhado
Vinho branco
Bolero de Ravel...
E muito carinho meu.-


Carlos Drummond de Andrade

domingo, abril 13, 2008

Bebedeira de azul!...

Há uma bebedeira de aul
no teu olhar.
Não há céu que resista
ao ensaio balançado
do teu corpo perdido
neste mar de emoções.
Com o vento zangado,
cortando o tempo,
encontramos a leveza
das pequenas ondas
que quase envergonhadas
chegam à praia
morrendo aos pés!...

annadomar

sábado, abril 12, 2008

Solidão!


O Homem é, por desgraça, uma solidão!

Miguel Torga

quarta-feira, abril 09, 2008

Domingo!




domingo
os meus olhos dormem de ti
as horas andam lentamente sob a chuva
adormecida a urgência
o mundo descansa pacífico
-quase não respira!
silvia chueire

terça-feira, abril 08, 2008

Quando se espera!...



Quando se espera ,

as horas são maiores

o tempo, é outra coisa que magoa.

Ele prometera que voltava,

ela acreditou que viria.

Assim, foi desfiando os dias

Com as estações nos dedos

A fugirem meses!...

Apagou-se a vontade,

O rosto virado a poente

As palavras secas,

num leito de riacho

onde passeavam o futuro.

Mas acabou tudo, na espera

sem regresso, no gesto ameaçado

de cansaço!...

Envelheceram os dois,

sem que se cruzassem mais...

annadomar

domingo, abril 06, 2008

O que dói!






…o que dói às aves


Não é o serem atingidas,


mas que,


Uma vez atingidas,


O caçador


não repare na sua queda



Daniel Faria

quinta-feira, abril 03, 2008

Todo o tempo do Mundo!...



JÁ FUI ONDE TINHA DE IR!...