quinta-feira, maio 29, 2008


quarta-feira, maio 28, 2008

O número dos versos!...


É muito igual a literatura, o que fica guardado nos livros.
Com o tempo mudou o verso, a curva, o arco, o declive,
o mal-estar, a maneira de enumerar as paisagens,as coisas desconformes.
Imagina tu as palavras que se repetem
à saída dos cinemas de província, atravessando o nevoeiro
das noites de Inverno; imagina tu estas ruas que ficam desertas
com o crepúsculo, os campos de batalha, os recados e bilhetes
de amor que nunca foram entregues, os caminhos
que levam da madrugada até ao coração da morte.
Poesia fácil, prosa quase; a música vem da sua melancolia
e não da aritmética sentimental, daquelas palavras
(sangue, grito, coração, litoral).
Mais de um halo,do sopro dos pinhais, dos destroços
de um amor de toda a vida.
Desengana-te acerca da poesia, da elevação,da circunstância,
fala apenas - como os antigos - da aventura
de um solitário entre ruínas, levantando as pedras,
reerguendo muros, contando o número de vítimas.
Depois deste haverá outro terramoto, recordarás o vento
nas eiras, o musgo entre os carvalhos, o rio dobrando-se
numa curva onde há mais choupos, esse areal, essa ventania.


Francisco José Viegas
[in Se me Comovesse o Amor, Quasi, 2007]

terça-feira, maio 27, 2008

Per te!... (Josh Groban)

E se esse amor existir!...

segunda-feira, maio 26, 2008

Corações!...


Há corações doces,

que se cruzam

nas ruas mais vazias

Batem fortes

sem avisar que chegam.
Outras vezes caramelizam
em afectos de mil cores!...
annadomar


domingo, maio 25, 2008

O amor e o tempo!...



Dantes,
Um sorriso teu
Era motivo
Para um poema.
Agora,
-o Outono chegou –
pensar em ti
é varrer da alma,
as pardas folhas
que o tempo,
- o forte tempo há
muito já secou.

Liberto da Cruz


sábado, maio 24, 2008

Vinhas!...




Vinhas ao meu encontro e teus
braços começaram a erguer-se
Era Domingo em teus olhos
trazias contigo o sol.
Jacinto de Magalhães

Busco em...


Busco em cada estrela o fogo capaz


de acalentar os meus olhos mais antigos.


Foi sempre a fome, companheira peregrina,


que me impeliu a seguir os roteiros da lua,


as ondas dos Oceanos, os acordes desse


sopro indelével: a vida. Fiz da solidão minha


nudez mais pura, o meu pão, a minha sede,


e da ausência a ressecar-me os olhos,


os caminhos todos do mundo. Renasço


no fulgor de cada estrela e, no fogo,


desfaço as cinzas do meu ser minguante:


fagulha a incandescer-me no universo inteiro.



Alexandre Bonafim


In: A outra margem do tempo.

São Paulo, 2008

quinta-feira, maio 22, 2008

Chavela Vargas - Piensa en Mí (Cupaima)



Ouvir só!

terça-feira, maio 20, 2008

Visto a esta luz!...


Visto a esta luz és um porto de mar

como reverberos de ondas onde havia mãos

rebocadores na brancura dos braços

Constroem-te um ponte

que deverá cingir-te os rins para sempre

O que há horrível no teu corpo diurno

é a sua avareza de palavras

és tu inutilmente iluminado e quente

como um resto saído de outras eras

que te fizeram carne e se foram embora

porque verdade sem erro certo verdadeiro

nada era noite bastante para tocarmos melhor

as nossas mãos de nautas navegando o espaço

os corpos um e dois do navio de espelhos

filhos e filhas do imponderável

de cabeça para baixo a ver a terra girar

Quero-te sempre como nã querer-te?

mas esta luz de sinopla nas calças!

este interposto objecto

e o seu leve peso de eternidade



Mário Cesariny

segunda-feira, maio 19, 2008

Será?...



Será que existimos, neste tempo?

Nesta harmonia?

Só pode ser virtual,

ou simples Alegoria!...

annadomar

domingo, maio 18, 2008

Um desbafo!...


Pois é, começo a estar farta das birras do Sr. Ministro Sócrates, não costumo usar este espaço para este tipo de patetices, prefiro de longe a voz doce da poesia e dos afectos. Mas caramba há um momento que se grita – já chega!
Eu já andava cheia mas por acaso os meus ouvidos passaram pela sua saída de um hospital qualquer e as suas declarações foram lamentáveis!... Tenha tino, acerte o passo e governe mas é o País que os Portugueses crentes lhe entregaram para cuidar. Não nos distraia com o fumar atrás da cortina e depois não saber que estaria a infringir a lei ou pior, que vai deixar de fumar, esse problema é para tratar em casa e não no púlpito, pensa que dormi melhor nesse dia ao mesmo tempo que pela décima nona vez aumentavam os combustíveis, engane-se…
Realmente é uma ralação ser portuguesa, direi mesmo uma carga de trabalhos, encontro sim uma vantagem poder neste momento escrever e ainda não ser presa, porque não tarda que aplique impostos sobre os sonhos de cada um de nós, que actualmente são mais pesadelos, garanto que arrecadava uns bons milhões para os cofres do Estado.
É verdade há que ter cuidado, quando deixei de fumar deprimi muito e fiz algumas maldades. Será que ainda lhe sobra alguma para fazer a esta Nação Sebastianista?... Até lá vá correndo, que o povo gosta de ver o seu corpinho e toda aquela gente à sua volta, atravesse a fronteira e olhe não volte, que nós por cá todos bem...
Estou mais aliviada agora no dia em que todos ou quase todos, estão preocupados com a taça de futebol. Eu vou aproveitar para ver o mar, pois os meus olhos gostam desse azul!
annadomar

sexta-feira, maio 16, 2008

As manhãs!...


As manhãs, chegam ensonadas
à beira da cama
Ainda o último sonho
na memória a doer,
Há que vencer os pássaros
Pousados em linha à janela
Trauteando afectos
Chega ao limite da rua
Deixa-se escorregar
Suavemente ao colo
da manhã orvalhada
São assim estas manhãs
matizadas de azul!...


annadomar

quinta-feira, maio 15, 2008

Não digas nada!...




Não digas nada!
Nem mesmo a verdade
Há tanta suavidade
em nada se dizer
E tudo se entender -
Tudo metade
De sentir e de ver...
Não digas nada
Deixa esquecer
Talvez que amanhã
Em outra paisagem
Digas que foi vã
Toda essa viagem
Até onde quis
Ser quem me agrada...
Mas ali fui feliz
Não digas nada.

Fernando Pessoa

quarta-feira, maio 14, 2008

Puedo escribir los versos mas tristes esta noche.....

Eros e Psique texto de Fernando Pessoa!



Pela manhã, faz o dia maior, faz ainda que sejamos melhores!...

terça-feira, maio 13, 2008

Descansando o tempo, das viagens!...

annadomar

domingo, maio 11, 2008

Duas Lágrimas!...

Ontem chorei muito.
Hoje verti apenas duas lágrimas.
Uma por cada olho,
As outras engoli-as
Para que possam
Desinfectar-me a alma.


Gilda Carvalho
in, Corpos Habitados

quinta-feira, maio 08, 2008

Cheiravas o Mundo!



Num regato de ternura

inventei o teu nome

Molhavas os pés em saltinhos

de pedra em pedra

Cheiravas o Mundo

Em esquinas de musgo

Os teus olhos eram dois peixes

vivos e irrequietos

Soltavas o riso ao vento

Desaparecias atrás da água

ou da flor mais branca

Cheiravas a tarde fresca

Enquanto crescias!...

annadomar

quarta-feira, maio 07, 2008

A concha perfeita das tuas mãos!...

A concha perfeita das tuas mãos
sei um jeito de te fazer ficar
murmuravas nas manhãs em que nascíamos
ávidos de nós
e éramos tão novos
e faltávamos às aulas

posso ter esquecido admito muita coisa
caminhos promessas lugares a cor
da saia que vestia no dia em que não voltei
muita coisa admito menos
a concha perfeita das tuas mãos sobre o meu peito
o cheiro das laranjeiras as cartas
em papel tão adolescente e azul
o esplendor de junho à mesa familiar
os espelhos garantindo-nos um lugar único na casa

posso ter esquecido admito muita coisa
menos os nossos corpos simultâneos
às portas do amor
no arco da minha pele que humidamente
se abria ao lume da tua língua
nessas manhãs em que jurámos
não morrer nunca.

Alice Vieira

segunda-feira, maio 05, 2008

Múm, Green Grass of Tunnel!



Sabe bem atravessar estes lagos ao fim do dia!

domingo, maio 04, 2008

Amo os teus defeitos!...


Amo os teus defeitos,
e tantos
eram, as tuas faltas para comigo
e as minhas; essa ênfase
de rechaçar por timidez:
solidão
de fazer trepadeiras, agasalhos
para velhos, depois para netos;
indulgência de plantar e ver
o crescimento da oliveira do paraíso,
carregada de flores persistentemente
caducas; essa autoridade, irremediável
desafio; e a astúcia
de termos ambos quase a minha cara.


António Osório

sábado, maio 03, 2008

O que é o espaço?






O que é o espaço

senão o intervalo

por onde

o pensamento desliza

imaginando imagens?


O biombo ritual da invenção

oculta o espaço intermédio

o interstício

onde a percepção se refracta

Pelas imagens

entramos em diálogo

com o indizível



Ana Hatherly

O Pavão Negro

Assírio & Alvim2003