sexta-feira, março 30, 2007

Há...



Há esquecimentos que valem a pena
São os sinais que ficam
No fim da jornada
Infinitamente solitário
Que apetece olhar!...

annadomar

terça-feira, março 27, 2007

Pé ante pé!...



Pé ante pé, como se dançasse

Espreitou a vida, no silêncio

da madrugada

Não viu ninguém, não ouviu ninguém

Nem os seus próprios passos

Marcavam o compasso do ruído

O vazio que encontrou nesta intenção de ver

Coagiu-a ao regresso da partida

Mas quando chegou,

Já tudo era diferente

Perdera a leveza dos gestos

A inocência da voz

O brilho do olhar ardente

Com que esgotava a noite

ou o relembrar do dia

A madrugada perdera o orvalho

com que se vestia

Mas ela, dançava melhor!...

annadomar

segunda-feira, março 26, 2007

Vigílias!...

pernoito no interior do corpo desarrumado
o medo invade o penumbroso corredor
descubro uma cintilação de água no estuque
uma cicatriz de cristais de bolor
abre-se porosa ao contacto dos dedos
indica que não haverá esquecimento
ou brisa para limpar o tempo imemorial da casa

deste simulado sono ficou-lhe o amargo iodo
as madeiras enceradas cobertas de poeira
ervas secas à chuva molhos de rosmaninho junquilhos,
bocas de lobo silenas, trevo mas nenhuma fuga
foi recomeçada a infância permanece triste onde a abandonei
quase não vive

no entanto ouço-a respirar dentro de mim
agora tudo é diferente recomeço a viver

a partir do vazio da treva dos dias em silêncio
por entre a pele e um feixe de magnificas veias
sinto o pássaro da velhice arrastando as asas

onde desenvolve o calmo voo lunar

enumero cuidadosamente os objectos,
classifico-os por tamanhos por texturas,
por funções quero deixar tudo arrumado
quando a loucura vier da extremidade aguçada do corpo alado
e o rosto for devassado por um estilhaço de asa

então a vida abater-se-á sobre a folha de papel
onde verso a verso me ilumino e me desgasto.


Al Berto

domingo, março 25, 2007

Vermelho e azul!


São sempre pontos de encontro
Entre a ida e a volta
Chegam palavras de longe
Ou mesmo de tão perto
O espaço de uma rua
O tempo de um abraço!
annadomar

quinta-feira, março 22, 2007

Felicidade!....


A felicidade sentava-se todos os dias
no peitoril da janela.

Tinha feições de menino inconsolável.
Um menino impúbere
ainda sem amor para ninguém,
gostando apenas de demorar as mãos
ou de roçar lentamente o cabelo pelas
faces humanas

e como menino que era,
achava um grande mistério no seu
próprio nome


Jorge de Sena

quarta-feira, março 21, 2007

Primavera...

Para que o vento e o frio não
afastem a PRIMAVERA!...

Entre sombras...


Entre sombras e contornos
Descubro a luz
De um olhar
Fugidio , mas intenso
Há um tempo sem palavras
Que fustiga a memória
Atraiçoando gestos
Sem pertença
Paro e penso que amanhã
É mesmo amanhã
Que não se repita o dia
Pois a noite embrulha as sombras!...
annadomar

O amor....

O amor é a força mais abstrata,
e também a mais potente,
que há no mundo.
(Mahatma Gandhi)

domingo, março 18, 2007

Poética !...




De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.
A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.
Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem
Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
– Meu tempo é quando.
Vinicius de Moraes

sexta-feira, março 16, 2007

É hoje que escrevo...

É hoje que escrevo ! Sobre o dia sobre a vida!...

O dia é solarengo mas não convence muito , faz dores de garganta que me lixam completamente nos últimos 15 dias. Tosse, nem falar!... Conhece a noite, desata os nós e vai-me dizendo estou aqui e não tenciono abandonar-te até que o dia raie! A cama de casal é pequena para nós!
Vou enganando com mel e praguejando alto outras vezes para dentro , mas não será isso que a fará abrandar e abandonar-me.
Claro, acordo cansada para um dia cheio de horas!

Mas no meio disto há alegrias, anunciei que me ia embora por 3 meses. Amigos que não via há muito apareceram e têm estado. UAU!... Não caibo em mim de contente! Uns há que conhecem partes dos sítios do País imenso para onde vou. Uns optimistas, outros já me leram a cartilha. Chegar sozinha? Estrangeira? Mulher? Só falta dizerem já com alguma idade ( pois o meu problema são as hérnias e a tosse...)Tu tem cuidado não confies em ninguém, olha os cartões, olha os documentos, olha os dedos com ou sem anéis, a cabeça com pensamentos, roubam tudo!...Ás vezes matam! Penso que por este andar vou sair do aeroporto de Lisboa e no primeiro aeroporto em que fizer escala para outros, até encontrar um sorriso amigo. Vou sentar-me no chão em cima da mala (se ainda a tiver) e chorar, até que alguém sério, honesto me acuda, pela saturação de me ver assim tão infeliz!

O meu destino é um local pequenino com pessoas que já pediram para ligar a web cam para anteciparem o conhecimento de mim, estendi logo o pescoço, não fosse verem algumas rugas, pus um ar estudado em pose de sedução, nestas coisas nunca se sabe!
Vou ter com o meu amigo que já lá está, vai-me contando o seu quotidiano, sinto-o feliz, cheio de histórias de terceiro mundo, mas tão carinhosas que nos comovem ás vezes. Penso até que ele irá ter comigo ao primeiro aeroporto onde farei escala, pelo menos as gentes lá da terra já lhe pediram isso. “Não deixes a rapariga sozinha num País desconhecido, sujeita a tudo” , por exemplo ter medo, após todas estas histórias escabrosas que me vão contando, embora não seja muito sensível a isso, sempre fui moça desenrascada e sem medos , mas nunca se sabe...

Sei sim, que vou poder mergulhar a qualquer hora no mar quente, mesmo à porta de casa. Vou poder sentar-me debaixo da mangueira, comer pitangas maduras e beber água de coco, sem sair do quintal e sem perder o mar!...Seguir-se-ão longas horas de conversas com o meu amigo, que conheço há 34 anos, mas nunca dizemos tudo, é infindável o que há de nós por dizer ainda todos os dias que nos encontramos. Vou ficar por ali algum pedaço de tempo. Tentar reconstruir os últimos estilhaços de alma causados, por dias cinzentos sem sonhos a que não me quero habituar. Ainda me apetecem gargalhadas!...



annadomar

Hoje!...



Hoje perdi-me entre a folhagem, não tenho ideias de escrita

Estou a descansar, bem escondidinha, nesta loucura de cores!...

annadomar

quarta-feira, março 14, 2007

Sob os meus pés!...


Tivesse eu as roupas bordadas
do paraíso tecidas com luz dourada e prateada
o azul e o escuro e os negros panos da noite
e a luz e as metades-luzes.

Eu espalharia essas roupas sob os teus pés.
Mas, sendo pobre, tenho apenas os meus sonhos.

Eu tenho espalhado os meus sonhos sob os teus pés.
Por isso, pisa suavemente;
afinal,estás andando sobre os meus sonhos.


[Willian Butler Yeats]

terça-feira, março 13, 2007

Chegaste num dia de chuva!...


Chegaste num dia de chuva.
Quando vieste,trazias a lua sobre a prata do antebraço
e a vida repleta de espelhos partidos,
não permanecias.
Chegaste enquanto eu dançava sobre as mesas,
antes que os primeiros grandes aguaceiros iniciassem
o outono e o fulgor interdito de um corpo,
que antes enlouquecia lentamente sobre as mesas
na contemplação dos ventres das deusas antigas.
Essas que chegaram antes de ti.
Com as bocas cheias de sal.
Com as espáduas pintadas a cal.
só elas sabem como a carne é incalculável,
quando ama.
Com elas aprendi a soletrar as profecias
das rosas e a prece de olvidos
dos rios correndo para o ventre das mulheres com o cio,
onde, na ânsia de lírio das mães,
germina o caule da veia,
se o amor é a equidistante distância,
o equidistante delta
das bocas abertas para a concessão da rosa
rente ao sucinto equilíbrio da cintura:
Barco naufragado no olvido
dos ventres escalando
a côncava nudez da permanência.

Luis Manuel Felício Lourenço

segunda-feira, março 12, 2007

Amores perfeitos!...



Não há amores perfeitos

Há amores!

Uns tantos serão para sempre

Cheios de mutações e cores

Outros breves e fortes

Como brisas fustigando o rosto

Provocam o estado de sítio

Enlouquecem de palavras

Enchem-se de chuvas de beijos.

Morremos por eles

Ou ficamos no cais, serenamente

à espera que o tempo passe

Ou que a memória nos traga

Os perfumes de todos os corpos

que fomos habitanto.

É isso, não há amores perfeitos!...

annadomar

domingo, março 11, 2007

Ébrio de Água

O teu corpo é um copo onde bebo
A pouco e pouco a beleza de mim
Um relvado onde me estendo assim
Num descuido solto que não percebo.

O teu corpo é uma pista de gelo
Onde a minha longa língua carmim
Se desliza indomada e enfim
Se despenha pelo cabo do medo

Da tua boca onde bebo trémulo
Em sôfregos golos de eternidade
Em castos haustos de fugacidade

A profecia que me deixa crédulo
Que tu a mim pertences em verdade
E só a mim, fonte, matarás a sede!


David Rodrigues

sexta-feira, março 09, 2007

As jarras!...



Há dias assim

com jarras,

carregadas de flores brancas

Olhamos para elas e sentimos

O calor do branco

e das cores que inventamos

Dentro da alma

Dentro do peito aberto ao dia!...

annadomar

quarta-feira, março 07, 2007

NY


Acabado de chegar de NY, em Central Park West. Tirada hoje.
Aqui fui muito feliz!....Que saudades! Deixem-me partilhar
isto com voçês.
annadomar

terça-feira, março 06, 2007

Horas!


Chegaram cedo para casar
Mas ficou-lhes a vontade de
esperar!
Um sorriso paciente, aberto
Fê-los amarem-se ainda mais!...
annadomar

segunda-feira, março 05, 2007

Prefácio para um livro de poemas!...

...escrevo-te as sentir tudo isto
e num instante de maior lucidez poderia ser um rio
as cabras escondendo o delicado tilintar dos guizos nos sais de
prata da fotografia
poderia erguer-se como o castanheiro dos contos sussurrados junto
ao fogo
e deambular trémulo com as aves
ou acompanhar a sulfúrica borboleta revelando-se na saliva dos lábios
poderia imitar aquele pastor
ou confundir-me com o sonho de cidade que a pouco e pouco
morde a sua imobilidade

habito neste país de água por engano
são-me necessárias radiografias de ossos
rostos desfocados
mãos sobre corpos impressos no papel e nos espelhos
repara
nada mais possuo
a não ser este o recado que hoje segue manchado de finos bagos de romã
repara
como o coração de papel amareleceu no esquecimento de te amar.


AL Berto

domingo, março 04, 2007

A lua!...


Foi mágico, o mar de prata de repente escureceu
Para dar lugar à leviandade da lua
Depois, tornou a brilhar já a noite ia alta
Valeu a pena perder o olhar!...
annadomar

sábado, março 03, 2007

Soneto da Separação!...

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento

Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama
De repente, não mais que de repente

Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente
Fez-se do amigo próximo o distante

Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.


Vinicius de Moraes

quinta-feira, março 01, 2007

Máscaras!...

O cair das máscaras
Traz a dor da humilhação
Ou a alegria surpreendente
De se tornar a ser!

Deixa-me ver-te
Através de ti
E daquilo que quiseres
Que eu seja

Neste labirinto de afectos
Encontro-te num espaço
Fora de ti, mas em mim
Fora de mim, mas sem ti

Nestas voltas perdemos
O véu que nos cobria
A vergonha do desencontro.

Ficou-nos o vício
De nos escondermos!...

annadomar