sexta-feira, junho 29, 2007

Toranja - Carta

Saudade é o ar!...

quinta-feira, junho 28, 2007

Antes não....

Antes não nos pesava
O passado, colhíamos os dias
Ainda verdes, a frescura da sua polpa
Na vontade dos nossos
Dedos.
Depois vieram os sinais
dos primeiros cansaços sem remédio,
a noite fincou-se nas pedras,
fez-se de estorvos.
Aquilo que sobrou de ti
cabe-me nos bolsos
e é pouco para as minhas mãos.

Rui Pires Cabral

quarta-feira, junho 27, 2007




Regresso devagar ao teu sorriso como quem volta a casa.

Faço de conta que não é nada comigo.

Distraído percorro o caminho familiar da saudade,

pequeninas coisas me prendem,

uma tarde, num café, um livro.

Devagar te amo e às vezes depressa,

meu amor, e às vezes faço coisas que não devo,

regresso devagar a tua casa, compro um livro,

entro no amor como em casa.


Manuel António Pina

terça-feira, junho 26, 2007



Tenho saudades

Dos campos de girassóis

Que cobrem o Alentejo no Verão.

O cheiro da terra

Os dias cheios de tempo

Correndo muito devagar

Junto ao rio fresco e transparente

As carroças arrastam-se no calor

O cão atrás, corre ligeiro por um pouco de água

A criança suja e sem dentes sorri à minha passagem

Um adeus tímido enfeita-lhe o rosto de olhos verdes

São ciganos em movimento

Que atravessam a planície, junto aos campos de girassóis!

Tenho saudades desse estar!...

annadomar

segunda-feira, junho 25, 2007

Palavras de um faisão...



Perdi-me d'amor!

É uma pomba muito azul
-Um azul cor de céu quando há sol;
E hei-de fugir com ela
Por causa dum rouxinol ciumento
Que me apoquenta
Dizendo
Melodias de ironia penetrante.
Iremos

A esse país nevoento,
Lendário, belo, distante,
Lá onde a Lua se esconde
Em névoas que eternamente lá pairam...
Ó névoa, porque envolveis

O país de Lord Byron?
Às vezes


Penso num pajem que me teve
E num rei que me beijava
Quando a Rainha dormia...
Mas quando lho disseram
Bateu-me tanto
Que eu em longos ais morria...

Não ouvem?...

Lá continua
De novo
O rouxinol a dizer...
Ai, mas, se houver
Uma pequena verdade
No que ele insinua
- É lume caindo numa ferida
-Jamais aqui voltarei.

Num lago da velha Escócia

Darei fim à minha vida.


António Botto
Aves de Um Parque Real

domingo, junho 24, 2007


Esta noite
no silêncio destas paredes sombrias
cheias de palavras consumidas
a lua dança com gestos de encantamento
e as estrelas sorriem de prazer

Esta noite
invento-te nesta distância magoada
onde as palavras repousam
nos lábios ausentes que riem e se alimentam
de sabores sonhados

Esta noite
arde uma fogueira de nostalgia
e o mistério absorvente da tua luz
entra em mim mansamente

Aqui
longe de ti e de tudo
sinto-me bem dentro de ti
e deixo-me ficar

António Sem

sábado, junho 23, 2007

Patricia Kaas - Les Hommes Qui Passent

São os mapas das nossas memórias...
Fui muito feliz, enquanto a casa se vestia com este som !

sexta-feira, junho 22, 2007

Tempos de perdas!...


Estamos em tempo de perdas
Da memória das coisas que já foram nossas
Que vivíamos sem pressa, com a suavidade dos sonhos!
De mãos dadas, de olhares cruzados com o mar
Na amurada do tempo cheios de tempo
Depois, soltávamos borboletas do peito
E voavam sem sobressaltos no espaço em que os dois
Colhíamos as palavras reaprendidas
Todos os dias da nossa vida
E prendíamos nos cabelos como se
fossem estrelas brilhantes
Eram tempos de história
esses, em que nos amávamos!...
annadomar

quinta-feira, junho 21, 2007

shall we dance - jennifer lopez - gotan project

Há mulheres com tanta sorte que até dá raiva!...

Quem lamenta...

“Quem lamenta as suas perdas, olha para os seus próprios pés.
E quem olha para os seus pés, acha que o mundo
é do tamanho dos seus passos."

August Cury

quarta-feira, junho 20, 2007



Com o tempo perde-se a memória

e depois o esquecimento dela!

Fica o tempo do orvalho...

annadomar

terça-feira, junho 19, 2007

Pegue um sorriso!...


Pegue um sorriso
e doe-o a quem jamais o teve...
Pegue um raio de sol
e faça-o voar lá onde reina a noite...
Pegue uma lágrima
e ponha no rosto de quem jamais chorou...
Pegue a coragem
e ponha-a no ânimo de quem não sabe lutar...
Descubra a vida
e narre-a a quem não sabe entendê-la...
Pegue a esperança
e viva na sua luz...
Pegue a bondade
e doe-a a quem não sabe doar...
Descubra o amor
e faça-o conhecer o mundo...
Mahatma Gandhi

segunda-feira, junho 18, 2007

Gato Preto!


Há um gato preto
No meu imaginário
De pertença
Espreguiça-se, olha-me seriamente
Espera que eu me sente
Estende-se aos meus pés
E aí muito quietos
Pensamos para nós
Tudo aquilo que não podemos dizer
A raiva, o silêncio, a desistência,
os amores, os ressentimentos.
Uma panóplia de sentimentos
Que nos fazem deslizar para um breve sono
Como uma fuga, ou apenas o cansaço
De um gato preto do meu imaginário
De mim a tentar ir para o outro lado
Onde o tempo desce as escadas
E traz a memória fresca das tardes
Preguiçosas salpicadas de chuva!...
annadomar

domingo, junho 17, 2007


Voa sem medo no meu olhar
Entre a bruma e a chuva
Roubou as palavras
Que acabáramos de dizer
Incompletas, desesperadas
Neste cais de desencontros
Levou-as sem destino
Ao porto mais longínquo
Onde o tempo parado,
Esperava o amanhecer.
Enganei-me, o anoitecer
Mais escuro desse nosso dia
Em que as palavras se esgotaram
Entre voos de gaivotas e olhares vazios!...
annadomar

AVE MARIA

Adagio in G minor by Albinoni

vale a pena parar um pouco e ouvir só!...

sexta-feira, junho 15, 2007

De tempos!...


De tempos a tempos a minha alma
Põe-se nocturna...
E pendura-se na falta de esperança
Há uma luz ou outra mas muito frágil
Que me orienta os passos no restolho
Cruzo caminhos, invento novos
Mesmo assim, a noite veste-me
Sem condescendência alguma
de um silêncio magoado!...
annadomar

quinta-feira, junho 14, 2007

Calmaria!...


Um barco atravessa as constelações,
deixando um sulco de asa na superfície celeste.
Viajante clandestino, oculto o meu sonho
na mala do porão.
Ouço um choro de astros amarrados ao mastro de fogo,
e sinto uma queda de cometa no abismo do horizonte.
Desenho o seu rumo no mapa da alma.
Evito naufrágios; rodeio arquipélagos e recifes;
procuro o centro do céu, onde
se esconde a visão de um último porto,
com o seu cais de cinza e uma erupção de lava
nos bolsos do nada.
Então, acendo um cigarro na falésia
da memória.
Os deuses seguem-me, apanhando as beatas
que deixo pelo caminho.
Correm,e ouço o bater dos corações num eco
de cansaço. Mas não me apanham,
e dobro a esquina do ocaso, vendo-os tossir
com o fumo da noite
De volta ao convés, reabro
o diário de bordo.
E o barco continua parado
no oceano sem porto.

Nuno Júdice

Geometria Variável

quarta-feira, junho 13, 2007

Avencas!





Algumas pessoas têm na pele uma avenca
crescendo suas folhas delicadas,uma renda.
elas falam, gesticulam
com a suavidade das avencas,
a sensibilidade exaltada das avencas.
arde em seus olhos uma chama
densa e discreta de palavras por dizer.
silvia chueire

terça-feira, junho 12, 2007

A carta!...



Da carta que não chegou às tuas mãos,ficou
um passado memorável.
Nela constavam os
pequenos episódios que vivemos juntos.
Rasguei-a
junto ao rio, fiquei a olhar os pedaços de papel
serem absorvidos pelas águas turvas.
A tentativa de apagar finalmente o nosso passado.
Dirias que não havia necessidade,
dirias que o que vivêramos
não valia assim tanto,
nem mesmo três folhas escritas
com o coração nas mãos, a arder.
Eu sorriria diante de
ti como alguém que morresse.
Despiria as roupas
e lançar-me-ia na corrente fria.
Tentaria recuperar
o que conseguisse, pedaço a pedaço,
até afogar-me de vez.
Só existem duas razões para mexer numa ferida.
Curá-la, ou abri-la ainda mais.

segunda-feira, junho 11, 2007

O que farão?...

O que farão?...
Uma porta, uma bicicleta e um cão aqui neste espaço?
O cão espera o dono da bicicleta
Para juntos correrem caminhos novos
Onde falarão sobre as coisas verdadeiramente importantes
da vida...
O cão com o olhar fixo, relembrará cada palavra triste, cada metáfora, dita pelo dono.
São assim os cães...


annadomar

domingo, junho 10, 2007

Simbiose!...



O silêncio permanece em ti
e no meu corpo fica
desfeito e mudo
como dependesse de nós!
Vestes de oco vazio
a minha calada ausência
abraçando a minha pele
de madressilva pintada!
Publicado por Pepe Luigi

quinta-feira, junho 07, 2007

As crianças!...



Elas crescem em segredo, as crianças. Escon­dem-se no mais oculto da casa para serem gato bravio, bétula branca.
Chega um dia em que estás descuidado a olhar o rebanho que regressa com a poeira da tarde, e uma delas, a mais bonita, aproxima-se em bicos de pés, diz-te ao ouvido que te ama, que te espera sobre o feno.A tremer, vais buscar a caçadeira, e passas o resto da tarde a atirar sobre as gralhas, inumeráveis àquela hora.
Eugénio de Andrade

terça-feira, junho 05, 2007

Há dias!...






Há dias assim. Labirínticos, confusos , nada de fora está por dentro, nada de dentro, pertence a esta rua , a esta janela a esta pessoa distraída, que acabou de atravessar o meu olhar, a esta criança que invariavelmente todos os dias grita e chora no percurso entre o carro e a casa . É-me familiar e até incomodo se quiserem, a minha tolerância gastou-se nesta rotina.


Aliás, hoje estou cansada das rotinas, tenho a esperança presa nos cabelos mas a alegria saltitante anda pelas horas da desistência sabe-se lá porquê. Os vizinhos de cima dão-me más noites , já falei a bem, já falei a mal, agora resta-me esperá-los a todas as horas, encher a caixa de correio de bilhetes, cartas debaixo da porta. Ou seja saturá-los com a minha exigência a que tenho direito - dormir bem e sem sobressaltos! Eles não percebem, mas eu vou fazer isto de forma a que eles não esqueçam. Começo a magicar vinganças...E aí a frase agora, é que vão ver com quantos paus se faz uma canoa!...


Ela sonsa, até enjoa , ele marginal, mas fracote, apenas machão quando decide afinar a voz com insultos e por vezes até um estalo ou outro, como recompensa da sua delicadeza e fidelidade a ela... (casados para o bem e para o mal...)Aí ela grita em tom histérico e não estério, pois aí poderia ser ainda o princípio de alguma sinfonia que valesse a pena ouvir, mas nem isso. Começo a odiá-los, nestes dias perdidos, filhos de noites turbulentas e não gosto deste sentimento perturbante, de gente mesquinha... Eu quero dias laranjas, cheios de vida e gargalhadas tontas que nos fazem pessoas melhores. Já não basta o que vem sem avisar a moer-nos a cabeça de preocupações.


Pois é, vou ver o Mar, vou encher os olhos daquele azul estonteante e esperar que o céu rebente em laranjas de fim de dia, isso sim vale a pena,antes que a criança de todos os dias a chorar faça o caminho entre o carro e a casa sem que ninguém diga ou faça nada para que acabe!...



annadomar

segunda-feira, junho 04, 2007

Dizem que a paixão o conheceu!...





dizem que a paixão o conheceu
mas hoje vive escondido nuns óculos escuros
senta-se no estremecer da noite
enumera o que lhe sobejou do adolescente rosto

turvo pela ligeira náusea da velhice
conhece a solidão de quem permanece acordado
quase sempre estendido ao lado do sono
pressente o suave esvoaçar da idade

ergue-se para o espelho
que lhe devolve um sorriso tamanho do medo
dizem que vive na transparência do sonho
à beira-mar envelheceu vagarosamente
sem que nenhuma ternura nenhuma alegria
nenhum ofício cantante o tenha convencido
a permanecer entre os vivos.

Al Berto

domingo, junho 03, 2007



Foi um abraço demorado!
Prendeu-se então num olhar

Numa saudade nova
Num espaço vazio
Numa gare de comboios
Coloridos e tristes de partida
Ainda tentou vê-lo entre portas
Mas as lágrimas limparam as imagens
Vestidas de uma ausência forçada
Retomou o ponto primeiro
Onde as mãos se entrelaçaram
Nervosas e quentes de desejo!...

annadomar

sexta-feira, junho 01, 2007

Às crianças!...

Às crianças esquecidas
Às crianças não desejadas
Às crianças com fome
Às crianças com medo
Às crianças sem sonhos
Às crianças que eu amo!...

annadomar